Busque Amor novas artes, novo engenho
Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.
Luís Vaz de Camões (1524–1580)
(Foto: Mero Barral)
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Deixo um abraço e um soneto que versa o mesmo tema, Fernando.
SONETO A UMA "CHAMA QUE ARDE SEM SE VER"
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Quem pode ver amor que arde invisível
se Amor se mostra avesso a definir-se
e se esconde e se mostra intraduzível
no instante em que começa a traduzir-se?
*
Se além, se muito além do que é tangível
pudesse o mesmo amor baixinho ouvir-se
nalgum murmúrio que tornasse audível
o silêncio que deixa ao despedir-se
*
Diríamos que Amor, sendo sensível,
passível de acender-se e consumir-se,
é comburente e chama e combustível...
*
Mas como poderá tanto exigir-se
se para a maioria é impossível
entrar em combustão e não extinguir-se?
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Maria João Brito de Sousa – 25.06.2015 – 17.16h
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(Ligeiramente reformulado)
Muito obrigado, Maria João, pelo seu belíssimo soneto. O Amor é um tema eterno. Já foi glosado inúmeras vezes, mas falta sempre mais uma para glosá-lo. Este é um processo que não acaba nunca. E ainda bem que assim é!
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