Noite de Natal
Era noite de rixas a noite de Natal,
No Morro desamparado ante a vinda do Homem:
As mesmas bebedeiras e o batuque
De um Sábado maior.
Na cubata de adobe,
Sob o imbondeiro tutelar,
Sem a ficção da chaminé
Para o Menino entrar,
Era aí que esperávamos
Em esteiras sob o céu,
A Hora sem brinquedo algum...
E o tempo apenas se contava
Pelo pulsar
De pequeninos corações ansiosos,
Té o Sinal
Que era
Irrompendo na Noite
O canto dos alunos
Da Escola Missionária
Atravessando o Morro...
(-«Canários da Maianga» de Mestre Coelho,
Meninos sofridos de vozes límpidas,
Quantos silêncios vos esperariam?...)
Dormíamos então
Sob a impressão
De uma chuva de estrelas
-Presente de Natal.
Mário António (1934-1989), poeta angolano
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