Mariema
Carregando o filho a mãe bate no pilão
o arroz de todas as refeições.
Nos olhos grandes aquele conformismo fatalista
e a cara preta da sobrevivência sem emoções.
O menino aninha-se nas mamas escuras já secas.
Carinho certo.
As necessidades são esquecidas.
Festa maternal.
As armas ecoam perto.
Oh mãe preta! Mãe balanta, fula, mandinga…
Oh mães da Guiné tão iguais às brancas!
Sofreis,
tremeis,
apertais no peito a vossa fertilidade
— alegria de ser mulher —.
E no perigo defendeis esse pedaço sem preço,
único tesouro comprador de vida,
o ser que os outros não criaram!
Ao longe o canhão dispara, dispara sempre,
os estilhaços continuam…
Sangue, amor, sofrimento, ânsia de paz!
O povo encontra uma mulher morta
no chão da trincheira
sob cujo corpo ainda quente uma criança vive.
28 de Julho de 1973
Alberto Bastos (1948–2022), combatente da Guerra Colonial. Bailam Flores: Poemas. Edição da Câmara Municipal de Vale de Cambra, 1999
(Foto de autor desconhecido)
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