Os sargaceiros da Apúlia
Imediatamente a norte da Estela, no concelho da Póvoa de Varzim, fica a Apúlia, que é uma freguesia do concelho de Esposende. Apesar de a Apúlia estar situada à beira-mar, aquilo que a tornou famosa não está relacionado com a pesca, mas sim com a agricultura.
É a figura do sargaceiro, que apanhava as algas (sargaço) trazidas para a costa pelo mar, a fim de as utilizar na fertilização dos campos, depois de terem sido secas ao sol. Embora a actividade da apanha do sargaço esteja agora reduzida ao mínimo, ela na Apúlia teve uma grande importância no passado. Permitiu, inclusive, que se fertilizassem as dunas da Estela, transformando-as em campos produtivos, os chamados campos-masseira.
Os sargaceiros não eram profissionais da apanha do sargaço. Eram os próprios habitantes da terra (homens e mulheres) que, em determinadas ocasiões, abandonavam o trabalho nos campos e iam para a praia recolher sargaço e estendê-lo no areal para secar. Concluída a temporada da apanha do sargaço, regressavam à sua actividade agrícola.
A inconfundível indumentária que os homens vestiam para a apanha do sargaço é motivo de muita admiração. Não falta quem evoque as túnicas dos antigos romanos e as "saias" dos pauliteiros de Miranda (que na verdade não são saias; são camisas, que são tão compridas que parecem saias; digamos que os pauliteiros se "esqueceram" de vestir as calças e dançam em fraldas de camisa) para justificar o uso da chamada branqueta com saiote pelos sargaceiros da Apúlia.
Não são precisas grandes explicações. A razão para o uso de tal indumentária era eminentemente prática: permitir que o sargaceiro entrasse no mar, a fim de recolher o sargaço que flutuava na água.
Antigamente, como é óbvio, não existiam os tecidos sintéticos de secagem rápida que se usam nos modernos fatos de banho. As pessoas vestiam-se de linho, algodão ou lã que, uma vez molhados, demoravam muito tempo a secar.
Se o sargaceiro usasse calças, calções ou mesmo só cuecas, ele não poderia entrar na água, pois ficaria com um tecido molhado a roçar-lhe as virilhas durante horas, causando-lhe inflamações na pele e favorecendo o aparecimento de micoses. Por isso ele usava saias sem nada por baixo. Quase até aos limites impostos pelo pudor, as saias eram suficientemente curtas e com suficiente roda para que a água secasse rapidamente.
Comentários: 5
Lindo post, nunca havia tido acesso a informações sobre os sargaceiros. Deve ser fascinante ver de perto a maneira como essas pessoas trabalham.
Obrigado por compartilhar mais essa informação!
Devo salientar que me sinto satisfeita, por hoje me dia existir interessados em divulgar os sargaceiros de Apúlia. :)
olá boa tarde.
aproveito e complemento com imagens recentes:
http://picasaweb.google.com/apintocoelho/MareadaRecriaODaApanhaDoSargaO?feat=directlink
abraço,
http://apcoelho.blogspot.com/
Parabéns pelo texto e sobre tudo pelo tema, contudo convém esclarecer que a freguesia de Apúlia, pertence ao concelho de Esposende e não da Póvoa de Varzim
Muito obrigado pelos vários comentários que aqui têm sido deixados.
Caro "Off the record",
Não deve ter reparado que logo no início do artigo eu escrevi: «Imediatamente a norte da Estela, no concelho da Póvoa de Varzim, fica a Apúlia, que é uma freguesia do concelho de Esposende.» Parece-me que não podia ser mais claro; a Apúlia pertence ao concelho de Esposende e a Estela ao da Póvoa de Varzim.
Voltem sempre.
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