Makèzú
Antes de passar a transcrever aquele que é um dos poemas mais conhecidos do angolano Viriato da Cruz (embora não tão conhecido como o "Namoro", que Sérgio Godinho celebrizou), apresento um pequenino glossário para uma melhor compreensão do mesmo:
Makezu - nozes de cola (sing. dikezu)
Kuakié! - amanheceu!
Mbundu kene muxima - negro não tem coração
Resta acrescentar que as populações do mato, em Angola, costumam comer cola e gengibre logo pela madrugada, para acordarem e aconchegarem o estômago enquanto não chegar a hora de comerem algo mais substancial, que costuma ser a meio da manhã. A cola e o gengibre são o verdadeiro mata-bicho das gentes do mato.
Este poema de Viriato da Cruz refere-se à troca da tradicional cola e gengibre pelo pequeno-almoço à europeia, por parte dos habitantes de Luanda.
MAKEZÚ
- "Kuakié!!!... Makèzú, Makèzú..."
...................................................
O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.
Avó Xima está velhinha,
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia...
Lá vai para um cajueiro
Que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão pr'a Baixa.
Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das "venidas de alcatrão"
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quitandeira.
- "Kuakiè... Makèzú... Makèzú..."
- "Antão, véia, hoje nada?"
- "Nada, mano Filisberto...
Hoje os tempo tá mudado..."
- "Mas tá passá gente perto...
Como é aqui tás fazendo isso?"
- "Não sabe?! Todo esse povo
Pegó um costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão...
E diz ainda pru cima
(Hum... mbundo kène muxima...)
Qui o nosso bom makèzú
É pra veios como tu".
- "Eles não sabe o que diz...
Pru qué qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?"
- "É pruquê nossas raiz
Tem força do makèzú!..."
(Viriato da Cruz, Poemas, 1961)
Makezu - nozes de cola (sing. dikezu)
Kuakié! - amanheceu!
Mbundu kene muxima - negro não tem coração
Resta acrescentar que as populações do mato, em Angola, costumam comer cola e gengibre logo pela madrugada, para acordarem e aconchegarem o estômago enquanto não chegar a hora de comerem algo mais substancial, que costuma ser a meio da manhã. A cola e o gengibre são o verdadeiro mata-bicho das gentes do mato.
Este poema de Viriato da Cruz refere-se à troca da tradicional cola e gengibre pelo pequeno-almoço à europeia, por parte dos habitantes de Luanda.
MAKEZÚ
- "Kuakié!!!... Makèzú, Makèzú..."
...................................................
O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.
Avó Xima está velhinha,
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia...
Lá vai para um cajueiro
Que se levanta altaneiro
No cruzeiro dos caminhos
Das gentes que vão pr'a Baixa.
Nem criados, nem pedreiros
Nem alegres lavadeiras
Dessa nova geração
Das "venidas de alcatrão"
Ouvem o fraco pregão
Da velhinha quitandeira.
- "Kuakiè... Makèzú... Makèzú..."
- "Antão, véia, hoje nada?"
- "Nada, mano Filisberto...
Hoje os tempo tá mudado..."
- "Mas tá passá gente perto...
Como é aqui tás fazendo isso?"
- "Não sabe?! Todo esse povo
Pegó um costume novo
Qui diz qué civrização:
Come só pão com chouriço
Ou toma café com pão...
E diz ainda pru cima
(Hum... mbundo kène muxima...)
Qui o nosso bom makèzú
É pra veios como tu".
- "Eles não sabe o que diz...
Pru qué qui vivi filiz
E tem cem ano eu e tu?"
- "É pruquê nossas raiz
Tem força do makèzú!..."
(Viriato da Cruz, Poemas, 1961)
Comentários: 2
O poema "Namoro" de Viriato da Cruz foi cantado por Sérgio Godinho com meia-dúzia de versos a menos, mas nem por isso ele perdeu a ingeuidade e a frescura originais. Para isso muito contribuiu a música, que foi composta por Fausto, que nasceu em Angola e conseguiu dar um toque angolano à canção. O resultado foi o êxito enorme que se sabe. Quase não há ninguém em Portugal que não saiba cantarolar o "Namoro".
O poema "Makezú" (em quimbundo, a acentuação das palavras não é tão rígida como em português; ela pode variar em função da eufonia, embora a sílaba tónica tenda a ser a penúltima) foi cantado por Rui Mingas sem o diálogo final. Não sei quem foi que o musicou, mas é provável que tenha sido o próprio Rui Mingas.
ANGOLA,que saudade!Do ceu azul a mirar-se nas águas à volta da Restinga!E das areias douradas das suas praias sem fim!
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