Dia de Finados
POEMA DA MINHA ESPERANÇA
A gente assim, por saber
que tem sempre tempo a mais,
não se rala nem se apressa.
O meu sorriso de troça,
Amigos!,
quando vejo o meu relógio
com três quartos de hora a mais!...
Tic-tac... Tic-tac...
(Lá pensa ele
que é já o fim dos meus dias.)
Tic-tac...
(Como eu rio, cá p'ra dentro,
de esta coisa divertida:
ele a julgar que é já o resto
e eu a saber que tenho sempre mais
três quartos de hora de vida.)
Sebastião da Gama, in Serra-Mãe, 1945
Dies Irae, da Missa de Requiem em Ré Menor, K. 626, de W. A. Mozart, pela Orquestra e Coro da Academia de Saint Martin in the Fields, sob a direcção de Neville Marriner
Dies Irae, da Missa de Requiem de Giuseppe Verdi
Comentários: 3
Confesso que não conhecia o poema... mas fez-me lembrar aquele do Pessoa em que ele descreve o rio da sua aldeia, com os seus vagares.... poque "como não tem tempo, não tem pressa"... eu sou assim também, o tempo corre em mim e eu não ligo... não tenho tempo para isso...
Embora não seja um nome muito falado, a verdade é que Sebastião da Gama é um nome muito importante da poesia portuguesa do séc. XX. Escreveu alguns poemas que Fernando Pessoa, por certo, não desdenharia subscrever, como o poema "Pelo sonho é que vamos".
Este poema que aqui publiquei é de uma ironia aparentemente deslocada para um dia de Finados, mas ele é de uma ironia trágica, na verdade. Quando escreveu este poema, provavelmente o autor já estaria afectado pela tuberculose, doença que viria a matá-lo aos 28 anos de idade. Se assim foi, Sebastião da Gama revelou uma força de carácter extraordinária, pois riu-se da sua própria morte, que pressentiria próxima.
vale a pena visitar este site só pelos esclarecimentos que levamos a seguir. só posso agradecer.
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