Chegou a Primavera
QUANDO VIER A PRIMAVERA
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, pelo Teatro de Dança de Wuppertal, com coreografia de Pina Bausch
Allegro, da Sonata "Primavera", de Ludwig van Beethoven, por Arisa Fujita, em violino, e Megumi Fujita, em piano
Águas de Março, por Elis Regina
Canto da calhandra
Canto do tordo
Canto do rouxinol
Canto do melro
Comentários: 8
Com alegria, a chegada da Primavera, num 21 de Março em que se assinala também o Dia Mundial da Poesia e o Dia Mundial da Árvore.
Prezada O'Sanji, esta manhã, ligeiramente antes das 8 horas, liguei o rádio para a Antena 1, a fim de ouvir as notícias, e apanhei a estação a transmitir uma gravação de um canto de um pássaro, que eu iria jurar ser exactamente a gravação do canto da calhandra que aqui pus 7 ou 8 horas antes! Será possível uma coincidência assim?! Ou será que alguém da RDP visitou este blog durante a madrugada?
Caro amigo,
Aqui, como sabes, não há essa divisão cronológica. O que sei é que estamos naquele fantástico mês de Março (antigamente mês de férias), quando a água do mar é morna.
Gostei de ver aqui Pina Bausch. Diversos coreógrafos produziram as suas próprias versões da "Sagração da Primavera", após a obra original, criada por Nijinsky para os "Ballets Russes" de Serge Diaghilev. De todas, prefiro, sem dúvida esta de P.Bausch.
Embora alguns historiadores da dança já a vão considerando parte da história, alegando o facto das suas coreografias estarem já datadas, a verdade é que esta, que foi a grande inspiradora da dança contemporânea europeia, continua genial e as suas coreografias sempre surpreendentes e originais.
E pronto! Ficaste a saber que sou fã de P. Bausch.
Obrigada, portanto!
Caro Denudado
Coincidências? Poderão ser... Mas olhe que os radialistas, muitos com tão pouca imaginação, também se entretêm a visitar blogs... ;-) principalmente quando vale a pena visitá-los!
Um abraço
Cara amiga Phwo,
A Pina Bausch e a sua companhia estiveram há menos de duas semanas em Lisboa, onde deram um espectáculo. Infelizmente para mim, não vieram ao Porto. Foi por ter tido conhecimento desta notícia que eu me lembrei dela e fui ao YouTube procurar uma sua coreografia.
Um outro vídeo que encontrei no YouTube mostra a própria Pina Bausch a dançar, há bastantes anos já. É impressionante a transfiguração que se opera naquele corpo quase transparente, de tão magro que é, em algo que transcende a natureza humana. O video está neste sítio.
É claro que eu sei que aí em Angola os equinócios passam completamente despercebidos, em resultado da situação geográfica do país, entre o Equador e o Trópico de Capricónio.
É recorrente, também, dizer-se que Angola só tem duas estações e que não tem Primavera. Permito-me contestar esta última afirmação, feita por quem, certamente, nunca esteve no interior de África. Em Angola há Primavera, sim, embora ela só dure duas ou três semanas. Ela é uma assombrosa explosão de vida e de cor, que acontece imediatamente a seguir à queda das primeiras chuvas que marcam o fim da estação do cacimbo. As regiões cobertas de savana, na verdade, não são as que permitem apreciar melhor esta explosão, pois a paisagem é dominada pelo capim, que é uma planta que não tem graça absolutamente nenhuma; só chateia. Mas nas regiões onde há floresta tropical húmida, na qual existe uma exuberância vegetal extraordinária, tanto em quantidade como em diversidade de espécies, o início da estação das chuvas é um acontecimento que merece ser vivido!
Cara amiga O'Sanji,
Eu não duvido que os radialistas também visitam blogs, mas já acho pouco provável que o façam a altas horas da madrugada e que trasnmitam uma gravação apenas poucas horas depois de ela ter sido publicada num dos blogs, também já de madrugada ou quase.
De resto, eu não sou ouvinte habitual da Antena 1. Só lhe ouço alguns (poucos) noticiários e nada mais. Acho insuportável a impressionante insistência com que na Antena 1 passam o indicativo da estação. Passam-no, seguramente, dezenas de vezes por hora!!! Eles querem dar com os ouvintes em doidos ou quê?! Cá por mim, recuso que me queiram obrigar a ficar com o indicativo a martelar-me dentro da cabeça ao longo de todo o dia. É, no mínimo, uma falta de respeito da parte deles para com quem lhes paga os ordenados.
Um extracto de "Cafe Muller", no vídeo. Belo, com música de Henry Purcel. Foi sobre esta peça que trabalhei para a minha coreografia final da disciplina de composição Coreográfica.
Em "Cafe Muller", Pina Bausch recorda a sua infância e vivências num café da sua cidade, onde constroi e desconstroi o espaço à sua volta. Organizando e desorganizando permanentemente o caos, Bausch dança, com a alma à suprefície, representada pela camisa de noite branca e leve.
Deves ter iuma bola de cristal! (Ou será que, por se tratar dos meus "domínios", tenho sempre algo a propósito?)
Bjs.
copiei uma das músicas e mandei "águas de março" a todos os amigos ;) muito obrigada pelo link do mp3. adorei o blog. beijinho.
Alice, seja bem-vinda. Vá aparecendo por aqui e diga de sua justiça sempre que entender.
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