Pedro Cem
Silhueta da (erradamente chamada) Torre da Marca, também chamada Torre de Pedro Cem (designação correcta), situada em frente ao Palácio de Cristal, no Porto,
(...) Pedro Pedrossem da Silva foi, por corruptela do nome Pedrossem, o Pedro Cem. Nasceu no Porto, Portugal, e ai faleceu em 9 de fevereiro de 1775. Residia na Reboleira, perto do Douro. Mercador riquíssimo, diretor da Companhia dos Vinhos, Juiz de Confraria, figura imponente, era usurário e orgulhoso. Casara com dona Ana Micaela Fraga e tivera três filhos: - Luiz Pedrossem, falecido no Porto em 1730, o cônego João Pedrossem que foi Deão da Sé do Porto, e Vicente Pedrossem, rico comerciante, falecido em 1806, cavaleiro da Casa Real, casado com uma moça de excelente família, dona Maria do Ó de Caminha Ossman. Vicente Pedrossem possui uma das grandes fortunas na região do Douro.
A lenda conta que o velho Pedrossem olhando da torre da Marca avistou, entrando pela barra, suas frotilhas de naus, vindas do Brasil e das Índias, carregadas de especiarias, jóias e produtos caros. Cheio de vaidade exclamara: - Agora, mesmo Deus querendo, eu não posso ficar pobre!...
Uma brusca tempestade destruiu-lhe a frota. Pedrossem perdeu tudo quanto possuía. Sem amigos, que sua ostentação afastara, mendigava nas ruas do Porto: - Esmola para Pedro Cem que tudo teve e nada tem!...
Jamais le fait réel ne manque, escreveu Van Gennep estudando a formação das lendas. Pedrossem, de milionário faustoso, ficou pobre mas não mendigo. A diminuição de sua riqueza foi tomada como castigo ao seu desdém. O nome prestava-se e ainda havia a repetição de Pedro Pedrossem que deu o fácil e humilhado Pedro Cem, rima para "que tudo teve e hoje não tem". A venda de suas propriedades, sua retirada do grosso comércio, o retraimento social, fizeram o ambiente para a lenda. Pedrossem estava pobre mas nunca mendigou. (...)
(in Jangada Brasil - nº 23 - Julho 2000, onde se pode ler uma interessantíssima narrativa em verso, da autoria do poeta popular brasileiro João Martins de Ataíde, impressa em Recife, Pernambuco, em Junho de 1932; recomendo vivamente a leitura deste poema)
Comentários: 2
A Torre de Pedro Sem não é e nunca foi a Torre da Marca. A dita Torre da Marca era, em termos práticos, uma baliza para orientar a navegação no rio Douro, que estava situada sensivelmente onde hoje fica a extremidade da avenida das tílias, em frente à capelinha de Carlos Alberto, nos jardins do Palácio de Cristal. Naquele tempo, toda a área dos jardins correspondiam ao Campo da Torre da Marca. De grosso modo tratava-se de uma parede ameada com uma abertura que a atravessava obliquamente. Desde que fosse possível ver através dessa abertura navegava-se bem no rio. Foi parcialmente destruída durante o Cerco e não chegou a ser reparada. A sua utilidade deixou de existir com a construção da torre dos Clérigos, que passou a ser marco de referência.Talvez a lenda de Pedro Sem tenha dado origem à confusão, de resto habitual.Se Pedro Sem observava a barra do Douro a partir da Torre da Marca, é natural a associação deste nome à torre que conhecemos de Pedro Sem.
Prezado Rui Xaruto,
Muito obrigado pela sua rectificação. A legenda da fotografia que encima este artigo foi alterada em conformidade. Volte sempre.
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