O kantele
O herói mitológico Väinämöinen tocando o primeiro kantele. Escultura de Robert Stigell (1852-1907), Helsínquia, Finlândia (Foto: Vladimir Menkov)
O kantele (pronuncia-se "kántele") é um instrumento musical de cordas dedilhadas, da família das cítaras, tradicional da Finlândia, Carélia (uma República Autónoma da Federação Russa, vizinha da Finlândia) e Estónia (onde este instrumento se chama kannel).
As origens do kantele estão envoltas nas brumas da mitologia finlandesa e carélia, chamada Kalevala. Esta mitologia foi publicada, sob a forma de poema épico, pela primeira vez no séc. XIX, por Elias Lönnrot, que realizou um trabalho notável de pesquisa, recolha e sistematização das tradições populares finlandesas e carélias, sobretudo ao nível da poesia e da música. Por esta razão, o Kalevala é a epopeia nacional finlandesa.
A figura principal do Kalevala é Väinämöinen, um herói dotado de poderes sobrenaturais. Segundo a epopeia, foi Väinämöinen quem criou o kantele, a partir da mandíbula de um lúcio (peixe) gigante e de alguns pêlos de um garanhão pertencente ao espírito tutelar Hiisi.
Nos vídeos que se seguem podemos ouvir duas melodias populares finlandesas, tocadas num kantele de 38 cordas. A intérprete, contudo, é japonesa. Coisas da globalização...
Comentários: 2
Precioso o som e a delicadeza ("oriental"?)da manipulação.
Cara Phwo,
A delicadeza da manipulação é pelo menos dupla: é oriental e é feminina.
Bem lá no fundo, a orientalidade não é tão alheia à cultura popular finlandesa como seríamos levados a pensar à primeira vista (e ao primeiro ouvido). As raízes mais profundas dessa cultura, com efeito, estendem-se através da Ásia, embora não cheguem à China nem ao Japão.
Os finlandeses e os seus "irmãos gémeos" carélios e estónios contam-se entre os povos mais louros e pálidos de todo o planeta. E contudo eles não são indo-europeus, como o são os povos germânicos, latinos, celtas, eslavos, etc.
Os finlandeses, carélios e estónios, e também os húngaros e lapões (também chamados sami), possuem culturas ancestrais que entroncam na cultura que teria existido nas intermináveis estepes dos confins da Rússia antes da invasão eslava e portanto indo-europeia. A sua mitologia pagã não tem qualquer relação com a mitologia nórdica, nem com a mitologia germânica, grega ou romana, a não ser no sentido em que existe um substrato comum a todas as mitologias de todos os povos de todos os continentes.
As suas estranhíssimas línguas também não têm qualquer relação com as restantes línguas europeias. As chamadas línguas fino-ugrianas pertencem à grande família das línguas uralo-altaicas, que engloba línguas faladas por povos tão diversos como os turcos, os samoiedos (da Sibéria), os mongóis e até os coreanos.
E no entanto ninguém tem dúvidas em classificá-los como europeus...
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