20 novembro 2010

Gravações com mais de cem anos

Thomas Alva Edison (1847-1931) juntou do fonógrafo, um aparelho por si inventado para a gravação e reprodução de sons (Foto: Library of Congress)

A primeira gravação que proponho escutar foi feita em 1899. Consiste num ragtime intitulado "Whistling Rufus", executado em banjo por Vess L. Ossman (1868-1923). É um notável solo de banjo, digno de ser passado à posteridade.


Ragtime Whistling Rufus, por Vess L. Ossman

O tenor Enrico Caruso (1873-1921) foi o mais aplaudido cantor de ópera do início do séc. XX. O seu nome ficou célebre de tal modo que ainda hoje ele está envolto numa espécie de aura lendária. A verdade é que, desde que passou pelo mundo dos vivos um fenómeno chamado Luciano Pavarotti (1935-2007), Caruso passou a soar aos nossos ouvidos como um cantor banal, cujas gravações deixam em nós uma amarga sensação de desilusão. É o que acontece com a gravação seguinte, feita em 1903 e em que se ouve Caruso cantar a ária "E lucevan le stelle", da ópera Tosca, de Giacomo Puccini (1858-1924).


E lucevan le stelle, de Puccini, por Enrico Caruso

John Phillip Sousa (1854-1932) foi um compositor e maestro norte-americano de ascendência portuguesa, que compôs marchas militares e patrióticas que se tornaram extremamente populares. Uma das mais célebres foi a marcha "Stars And Stripes Forever", que poderemos ouvir na gravação seguinte, feita em 1908 e em que o autor dirige pessoalmente a sua própria banda.


Stars and Stripes Forever, de John Phillip Sousa, pela Sousa's Band

O italiano Alessandro Moreschi (1858-1922) não foi um cantor qualquer. Para sua desgraça, ele foi um castrato. Antigamente, na Europa, uma mulher que cantasse e representasse em público era considerada uma mulher perdida, cuja alma estava condenada a arder eternamente no fogo do Inferno. Nas óperas e peças de teatro, os papéis femininos eram por isso frequentemente atribuídos a castrati, isto é, a homens que tinham sido castrados em crianças, antes de terem atingido a puberdade, e que, por isso, conservavam ao longo da vida a voz aguda da sua infância. Esta prática bárbara e horrosa de castrar rapazes impúberes, abençoada pela Igreja porque era «para glória de Deus», desapareceu no séc. XIX, não sem que um desses rapazes tivesse chegado até ao séc. XX. Alessandro Moreschi foi o último castrato do Vaticano e o único de quem existem gravações sonoras. Aqui o podemos ouvir cantando a "Ave Maria" de Charles-François Gounod (1818-1893). É a mais pungente interpretação da "Ave Maria" de Gounod que escutei até hoje. Arrepiante.


Ave Maria, de Gounod, por Alessandro Moreschi

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