Fernando Lanhas (1923-2012)
Autorretrato
É um lugar-comum dizer-se que a cultura fica mais pobre quando morre um artista. No caso do falecimento de Fernando Lanhas, ocorrido há poucos dias, esta afirmação é mais do que um simples lugar-comum. Ela é mesmo verdadeira. A cultura portuguesa e esta cidade do Porto, em particular, onde Fernando Lanhas nasceu em 1923, têm vindo a empobrecer acentuadamente nos últimos tempos. É toda uma geração de grandes vultos artísticos da cidade e do país que está a desaparecer fisicamente. Morreu Ângelo de Sousa, morreu Júlio Resende, morreram outros mais, e agora Fernando Lanhas. Quem mais se seguirá?
Esta geração de artistas que agora nos vai deixando desempenhou um papel importantíssimo na introdução da modernidade no nosso país, apesar do regime político e mesmo contra o regime político, que era culturalmente conservador e medievalizante. No caso de Fernando Lanhas, isto é particularmente verdadeiro, pois ele foi um dos pioneiros mais destacados na afirmação da arte abstrata em Portugal.
Apesar de ser mais conhecido como pintor, Fernando Lanhas foi também um notável arquiteto. De resto, era como arquiteto que ele queria ser tratado, e não como pintor: «arquiteto Fernando Lanhas». Além da pintura e da arquitetura, ele também se dedicou intensamente à antropologia, à arqueologia, à etnografia e outros campos da arte e do saber. Chegou a ser diretor do desaparecido Museu de Etnografia do Porto (o que terá acontecido ao espólio deste museu?), que estava instalado no Largo de São João Novo.
Agora, sempre que passo pelo cruzamento da Avenida da Boavista com a Avenida de Antunes Guimarães (vulgo Fonte da Moura), sinto a falta da sua figura respeitável e respeitada, saindo de uma tabacaria, com um molho de jornais e revistas debaixo do braço, ou sentado à mesa de um café, mesmo encostado à janela. Não tenho outra solução senão conformar-me com a sua ausência.
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