Torre de Palma
Torre de Palma é o nome de uma herdade existente na freguesia de Vaiamonte, concelho de Monforte. Torre de Palma é também, e sobretudo, o nome por que são conhecidas as ruínas de uma riquíssima villa romana, que na referida herdade foram descobertas em meados do século passado e que estão classificadas como monumento nacional.
A villa de Torre de Palma data do séc. II ao séc. IV e terá pertencido a uma poderosa família romana ou romanizada, a família dos Basilii. Tinha tudo o que uma rica villa romana rural poderia ter: uma luxuosa residência para o proprietário, aposentos para servos e escravos, banhos com águas frias, mornas e quentes (respetivamente frigidarium, tepidarium e caldarium), celeiros, lagares, etc. Tinha até, nas suas imediações, um templo pagão, que no séc. IV foi convertido em basílica cristã.
Se, munidos destas informações sobre a riqueza das ruínas da Torre de Palma, as visitarmos, não poderemos deixar de sentir uma desilusão em face do que encontramos. É verdade que as ruínas são interessantes, sobretudo as da basílica, que têm um notável batistério em forma de cruz de Lorena, e as da residência senhorial, onde se podem ver os restos de alguns mosaicos romanos com formas geométricas de belo efeito. Pois, está bem, tudo isto é muito bonito, mas não chega. Afinal onde é que estão a riqueza e o luxo que se diz terem sido descobertos na Torre de Palma? Pois estão... em Lisboa!
É verdade. Os mosaicos romanos mais belos de todos quantos se encontraram em Portugal até hoje -- como o "mosaico das musas" e o "mosaico dos cavalos" -- e que decoravam a villa romana da Torre de Palma, estão hoje a encher-se de pó numa arrecadação do Museu Nacional de Arqueologia. Só são mostrados ao público por ocasião de alguma exposição temporária que os responsáveis pelo museu resolverem organizar a respeito da presença romana em Portugal. Tanto quanto eu sei, a última vez em que isso aconteceu foi em 2003...
As joias que na Torre de Palma foram encontradas, por seu lado, já têm melhor sorte, pois estão permanentemente expostas no referido museu, situado no Mosteiro dos Jerónimos. São verdadeiramente extraordinárias a qualidade e a riqueza das joias romanas da Torre de Palma que no Museu Nacional de Arqueologia se podem admirar. Só por si, estas joias justificam uma visita ao referido museu.
Mas porque é que tudo isto está em Lisboa? Estará certo que os alentejanos que quiserem ver estas riquezas -- que foram encontradas no seu Alentejo -- tenham que se deslocar propositadamente a Lisboa, se e quando os "senhores doutores" do museu acharem por bem expô-las ao público?
(Isto faz-me lembrar de uma ocasião em que eu estava a ver uma magnífica pintura, numa igreja de uma aldeia situada no sopé da Serra da Estrela. A pintura era excelente, sem dúvida nenhuma, mas não pude deixar de notar, à pessoa que me tinha aberto a porta da igreja e que era um habitante da aldeia, que o quadro apresentava alguns sinais de deterioração. Respondeu-me o meu interlocutor: «Há algum tempo, vieram cá uns senhores de Lisboa ver o quadro, e disseram que ele teria que ser levado para ser restaurado. Isso queriam eles! Levavam o quadro e nunca mais o devolviam! Se quiserem fazer o restauro, venham eles fazê-lo aqui mesmo, porque daqui é que o quadro não sai! O povo da terra não deixa.»)
Não será tempo de devolver ao Alentejo o que ao Alentejo pertence?
(Foto: Raul Losada)
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