Ermida do Paiva
(Foto: José Manuel Borges)
A poucos quilómetros de Castro Daire e muito perto da tortuosa estrada que, acompanhando o vale do Rio Paiva, liga Castro Daire a Alvarenga e a Castelo de Paiva, fica um templo muito curioso. É a Ermida do Paiva, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Construída em finais do séc. XII, esta ermida fazia parte de um antigo mosteiro, de que restam alguns vestígios, nomeadamente alguns arcos do claustro. Trata-se de uma igreja construída em granito, em sólido estilo românico, embora a existência de alguns arcos ogivais sugiram já o despontar do estilo gótico.
Quando nos aproximamos da igreja vindos da estrada acima referida (EN 225), não nos damos conta do interesse que aquele templo tem. Parece-nos ser apenas mais uma igreja românica, semelhante a muitas outras que existem por todo o norte de Portugal, uma igreja bonita, como todas as igrejas românicas são, mas nada mais. Só quando nos abeiramos dela é que nos damos conta da sua especificidade e do seu grande interesse: praticamente todas as pedras que compõem a ermida apresentam, de forma bem visível, uma sigla gravada. Há siglas de variadas formas, como estrelas de cinco e de seis pontas, cruzes, espirais, linhas compostas, etc. Diante de tanta profusão de siglas, sentimo-nos fascinados e intrigados. O que será que aquilo quer dizer?
(Foto: José Manuel Borges)
Não há a certeza de quais serão a razão e o significado daquelas siglas. Há quem indique que elas são símbolos usados em práticas ocultistas, que os monges do antigo mosteiro praticariam; há mesmo quem relacione os monges com os templários; mas há também quem, muito prosaicamente, sugira que as siglas não são mais do que marcas identificativas dos canteiros que trabalharam aquelas pedras. Como naquele tempo os pedreiros não sabiam escrever, eles adotariam um símbolo geométrico específico, que seria uma espécie de assinatura individual, para afirmar: «Este bloco de pedra fui eu que o trabalhei». Parece que na Idade Média era frequente o uso de símbolos individuais como identificação dos artífices.
Seja como for, a verdade é que a Ermida do Paiva merece uma visita. E mesmo que não o merecesse, merece com certeza uma visita toda a região que a envolve, que é uma região isenta de poluição e cheia de enormes belezas naturais. Agora que os dias bonitos vão começar, recomendo que se vá até Ermida do Paiva e se deem umas voltas por Castro Daire, a Serra de Montemuro, o Alto de São Macário, o Rio Paiva de águas frescas e margens convidativas, as aldeias de Drave, Covas do Monte, Covas do Rio, Janarde e outras, e se conclua o passeio com um jantar em Alvarenga, onde se comem os melhores bifes do mundo.
(Foto: GM)
Comentários: 3
Visto e aprovado. Um dia destes estou lá caído. Obrigado, Fernando Ribeiro, convenceu-me. Já passei àquela porta umas centenas de vezes, não fazia ideia nenhuma da carga histórica da Ermida. Claro que o São Macário, Covas do Monte, Janarde, conheço bem. E recomendo que a volta dos curiosos inclua Meitriz, Rio de Frades, as praias fluviais do Rio Paiva, que são um paraíso.
Visto e aprovado. Um dia destes estou lá caído. Obrigado, Fernando Ribeiro, convenceu-me. Já passei àquela porta umas centenas de vezes, não fazia ideia nenhuma da carga histórica da Ermida. Claro que o São Macário, Covas do Monte, Janarde, conheço bem. E recomendo que a volta dos curiosos inclua Meitriz, Rio de Frades, as praias fluviais do Rio Paiva, que são um paraíso.
Caro José Teles,
Eu não fiz referência a Meitriz, porque falei de Covas do Rio e de Janarde. Ora para ir de Covas do Rio para Janarde, ou vice-versa, passa-se por Meitriz. Mas tem razão em referi-la, pois é uma aldeia muito tradicional, que também merece ser conhecida.
Muitas outras aldeias poderia eu referir, como Parada de Ester ou Eiriz, por exemplo. Mas refiro agora uma outra que fica muito perto da Ermida: Pinheiro. Pois sobre o rio Paiva, muito próximo desta aldeia do Pinheiro, existe uma excelente ponte de cantaria, que teria sido mandada fazer por um antigo emigrante no Brasil. A ponte é tão sólida que certamente irá durar muitos e muitos séculos, para não dizer milénios. À entrada da ponte, há uma espécie de marcos de pedra (um de cada lado) que terão servido de apoio a cancelas que fechavam a passagem. Quem quisesse passar pela ponte, teria que pagar portagem junto às cancelas, pois a ponte era propriedade privada. Agora já não se paga nada, nem as cancelas existem mais.
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