Citação
Santa Maria da Feira, por ocasião de uma sessão fotográfica realizada por Spencer Tunick no dia 13 de setembro de 2003 (Foto: Spencer Tunick ) |
Passámos a ser criaturas vestidas, de corpo e alma. E, como a alma corresponde sempre ao corpo, um traje espiritual estabeleceu-se. Passámos a ter a alma essencialmente vestida, assim como passámos — homens, corpos — à categoria de animais vestidos.
Não é só o facto de que o nosso traje se torna uma parte de nós. É também a complicação desse traje e a sua curiosa qualidade não ter quase nenhuma relação com os elementos da elegância natural do corpo nem com o dos seus movimentos.
Fernando Pessoa, sob o heterónimo Bernardo Soares, Livro do Desassossego
Comentários: 7
Do mesmo Livro, «A beleza de um corpo nu só a sentem as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensibilidade como o obstáculo para a energia.»
Muito obrigado por esta outra citação de Fernando Pessoa, prezada Flor. O Livro do Desassossego permite fazer milhares e milhares de citações, sobre uma grande quantidade de assuntos. Mas a verdade é que não concordo com esta citação. Ela equivaleria a dizer, por exemplo, que a beleza de um rosto descoberto só a sentem as raças que usam véu ou burka…
A arte da Grécia antiga exaltou a beleza dos corpos nus como nenhuma outra. Contudo, julgo que não podemos considerar os antigos gregos como fazendo parte de uma raça vestida. A nudez era muito comum entre eles.
Seja como for, obrigado pelo seu comentário. Intervenha sempre que entender.
É como diz, o Livro permite milhares de citações.
Obrigada e bom fim de semana.
Já comprei o Livro do Desassossego de Vicente Guedes/Bernardo Soares, edição de Teresa Sobral, da Relógio D'Água.
É só uma curiosidade, pois foi aqui, no seu blogue que ouvi falar pela primeira vez do heterónimo Vicente Guedes.
Boa noite:)
É de facto um livro muito denso, mas muito interessante, sobretudo a parte atribuída a Bernardo Soares, cara Isabel.
Eu agora estou a ler um livro sobre os baleeiros dos Açores, editado pelo Peter Café Sport, que uma pessoa da minha família me trouxe da cidade da Horta, com uma dedidatória do próprio dono do estabelecimento. O livro chama-se "Baleia!" (com ponto de exclamação) e é de um autor inglês chamado Bernard Venables, que o escreveu nos anos 60, quando ainda se fazia caça à baleia nos Açores. Ainda vou no princípio e, por isso, ainda não tenho uma opinião formada sobre o livro.
Tenho opinião formada, mas é, sobre a Horta. Isso sim. É uma cidade que me fascina particularmente, não só pela presença hipnótica da ilha do Pico ali mesmo em frente, do outro lado do Canal, mas também e sobretudo pelo espantoso cosmopolitismo que ela apresenta. Em vez de nos considerarmos perdidos no meio do oceano, numa pequenina cidade onde nada acontece (a não ser que haja algum tremor de terra), na Horta sentimos que estamos no meio do mundo, numa encruzilhada onde os viajante das mais variadas proveniências se cruzam e se encontram. E o café do "Peter" é uma prova particularmente eloquente disto mesmo. É uma autêntica Babel.
Nunca fui aos Açores nem à Madeira, mas a sensação que tenho é que não gostava de lá viver, porque me sentiria "presa".
Fiquei a saber há dias, quando visitei o Camião do Oceanário,( que anda pelas cidades de país), que nas nossas águas aparece a maior baleia que existe à face da Terra, entre outros animais que eu nem sequer imaginava que existiam nestas águas. Nem sabia que a extensão marítima pertencente a Portugal era tão grande.
Deve ser um livro interessante.
Boa noite:)
Estou de acordo consigo quanto à sensação de prisão. Viver numa ilha é capaz de ser um bocado claustrofóbico, sobretudo se a ilha for pequena. Na ilha da Madeira esta sensação não deve ser muito viva, porque a ilha é relativamente grande, tem paisagens muito variadas, tem muito que ver e tem muita gente. Mas na do Porto Santo a sensação já deve ser forte, e muito! Isto de uma pessoa se meter num carro e ao fim de três quartos de hora já ter dado a volta à ilha toda, é um bocado frustrante. Mas não se pense que eu não gosto da ilha do Porto Santo. Gosto muito, apesar de ser muito diferente da sua "irmã" maior.
Nas águas dos Açores, não só aparece a maior baleia do mundo, que é a baleia-azul, mas também o maior peixe do mundo, que é chamado tubarão-baleia, por causa das suas dimensões e da sua forma. Mas é um tubarão a sério e não uma baleia. O que é curioso é que o tubarão-baleia é completamente inofensivo, pois só se alimenta de plâncton! Um parente meu pratica mergulho por desporto, já tocou e acariciou tubarões-baleia ao largo da ilha de São Miguel e ainda conserva os dois braços e as duas pernas. Diz ele que é o animal mais manso do mundo.
Estou a gostar do livro. Está muito bem escrito, parece estar bem traduzido e o autor diz bem dos açorianos e dos portugueses em geral, o que é raro num inglês.
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