O caminho das estrelas
Seguindo
o caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
sobre a onda
sobre a nuvem
com as asas primaveris da amizade
Simples nota musical
indispensável átomo da harmonia
partícula
germe
cor
na combinação múltipla do humano
preciso e inevitável
como o inevitável passado escravo
através das consciências
como o presente
Não abstrato
incolor entre ideais sem cor
sem ritmo entre as arritmias do irreal
inodoro
entre as selvas desaromatizadas
dos troncos sem raiz
Só
Mas concreto
vestido do verde
do cheiro das florestas depois da chuva
da seiva do raio do trovão
as mãos amparando a germinação do riso
sobre os campos da esperança
A liberdade nos olhos
o som nos ouvidos
das mãos ávidas sobre a pele do tambor
num acelerado e claro ritmo
de Zaires Calaáris montanhas luz
vermelha das fogueiras infinitas nos capinzais violentados
harmonias spiritual de vozes tamtam
num ritmo claro de África
Assim
o caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
para a harmonia do mundo.
Agostinho Neto (1922–1979)
Comentários: 0
Enviar um comentário