O Inferno
Inferno, c.1520, óleo sobre madeira de autor anónimo, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal
O Inferno é uma pintura renascentista portuguesa, mais precisamente um óleo sobre madeira de carvalho, que é da autoria de um pintor anónimo português e que faz parte do espólio do Museu Nacional de Arte Antiga (vulgo Museu das Janelas Verdes), em Lisboa.
Embora não se saiba quem foi o seu autor, é possível datar este painel entre os anos de 1510 e 1520. Por um lado, Satanás surge representado com um cocar de penas na cabeça, à semelhança dos índios tupinambás, o que sugere que este quadro é posterior à chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 1500. Por outro lado, a profusão de corpos nus, que nos aparecem representados de uma forma muito realista, sugere que este quadro é anterior ao concílio de Trento. Este concílio, que decorreu entre 1545 e 1563, resultou de uma reação da Igreja de Roma à Reforma luterana e emitiu um grande número de dogmas e decretos, tendo colocado um ponto final, ou quase, à representação de nus na arte de cariz religioso. O próprio estilo do painel e a sua semelhança ou dissemelhança com outras pinturas portuguesas do séc. XVI permitem estreitar o intervalo de tempo em que ele terá sido pintado. É um quadro do Renascimento, por um lado, mas mostra‑nos uma representação do Inferno que muito deve ainda à mentalidade medieval, por outro.
O Inferno é um quadro a todos os títulos notável, não só pela sua superior qualidade técnica e artística, mas também por tudo o que nos revela sobre a mentalidade das pessoas que viveram em Portugal nos inícios da centúria de quinhentos. Em volta de uma caldeira de água a ferver, que ocupa o centro do quadro, vemos todo um conjunto de suplícios sendo infligidos por diversos demónios às almas dos pecadores. No fundo, o que este quadro representa é o castigo dos sete pecados mortais, sob a presidência de Satanás, que se vê representado em último plano, atrás da caldeira referida.
Nem sempre é fácil identificar os pecados mortais representados neste quadro. Se a avareza é facilmente identificada pelo homem a quem um demónio obriga a engolir moedas, já a caldeira de água a ferver no centro ou as mulheres que estão no canto superior esquerdo de cabeça para baixo e com o cabelo a arder são de mais difícil interpretação. Enfim, uma das interpretações mais aceites é a que se apresenta nos pormenores que se seguem.
Queda no Inferno das almas dos pecadores
Satanás presidindo ao Inferno
Castigo do pecado da gula
Castigo do pecado da avareza
Castigo do pecado da luxúria (adultério, representado por um casal amarrado, em primeiro plano, e homossexualidade, representada por um jovem acorrentado a um frade, em segundo plano)
Castigo do pecado da ira
Castigo do pecado da inveja
Castigo do pecado da preguiça
Castigo do pecado da soberba
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