Realejos
Um realejo com o seu tocador (Foto: Ullrich Schäfers)
Quando eu estava no início da minha vida profissional, fiz um estágio em Viena. Trabalhava muito perto do rio Danúbio, quase em frente ao edifício da ONU (sede da Agência de Energia Atómica, entre outras), e morava num bairro situado no sul da cidade, o 10.º bairro (Bezirk), que se chamava Favoriten. Este era um puro bairro residencial, pacato e acolhedor, com muito comércio local, um mercado, pequenos jardins, etc.
Uma sexta-feira à tarde, chegava eu do trabalho, pronto para gozar um merecido fim de semana apanhando sol nas margens do Danúbio (se estivesse bom tempo) ou visitando os incontáveis monumentos e museus que a capital austríaca possui (se o tempo não estivesse assim tão bom), quando apanhei uma enorme surpresa à saída da estação do metro: cá fora, dezenas de realejos e órgãos mecânicos tocavam festivamente, numa cacofonia maravilhosa. Desde a Reumannplatz até à Keplerplatz, todos estes instrumentos mecânicos se alinhavam, uns mais pequenos, outros maiores (julgo não estar a exagerar, mas creio que lá havia órgãos mecânicos com mais de dois metros de altura), tocados por sorridentes homens e mulheres que usavam trajos tradicionais ou estavam vestidos de forma mais ou menos apalhaçada. A maior parte deles era da Alemanha, mas também havia austríacos (claro) e suíços. Foi uma das muitas surpresas que tive em Viena, e seguramente foi uma das mais agradáveis.
Este inesperado "concerto" de realejos e afins, que tanto me encantou, constituiu uma animação de rua organizada pela Câmara Municipal de Viena. Perguntar-se-á: uma animação de rua em Favoriten, tão longe do centro histórico da cidade e das multidões de turistas que o visitam? É verdade, foi em Favoriten e não no centro histórico que este "concerto" teve lugar, para alegrar quem vivia e trabalhava em Viena.
Agora pergunto eu: por que raio é que as animações de rua que as Câmaras Municipais do Porto e de Lisboa organizam são sempre na Baixa das respetivas cidades? O Porto e Lisboa são só a Baixa, é? O resto da cidade não conta? Não conta. Para as respetivas edilidades, o Porto é a Baixa e o resto é paisagem, Lisboa é a Baixa e o resto é paisagem. Porque não há animações de rua em Campanhã, em Paranhos ou em Aldoar, em Benfica, em Carnide ou no Lumiar? Viena deu o exemplo.
Valsa Rosas do Sul, de Johann Strauss Filho (1825–1899), tocada por dois realejos em sincronia. Imagens da cidade de Viena, uma cidade mágica
Marcha Radetzky, de Johann Strauss Pai (1804–1849), tocada por um realejo
Um órgão mecânico tocando uma peça não identificada
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