A mão que o verso cria II
Nunca a Ciência se cala, quando a mente
É lúcida, saudável, curiosa...
Não sabe ouvi-la, a mente preguiçosa,
Nem a lançada à força, na corrente.
Não pode ouvi-la a mente que, indolente,
Aceite o dogma, ou fique, presunçosa,
Convicta de que a rosa se fez rosa
Por obra de um processo transcendente.
Não cala a Ciência a nossa incompletude,
Que a Ciência invade a própria poesia,
Sem roubar-lhe, nem sonho, nem virtude,
Já que a acrescenta nessa apostasia,
Enquanto a mão que a escreve não se ilude
E será sempre e ainda, a mão que a cria.
16.08.2018 — 15.53h
Maria João Brito de Sousa, no seu blog poetaporkedeusker
Monumento a Giordano Bruno (1548–1600), escritor, teólogo, filósofo e cientista italiano, que foi queimado vivo por ordem da Inquisição em 17 de fevereiro de 1600, por ter defendido a tese de que o universo é infinito e dinâmico, com uma quantidade infinita de estrelas e de planetas, e outras "heresias" mais. Tal como Galileo Galilei, Bruno também defendia que a Terra girava em volta do Sol e não o contrário. Este monumento encontra-se no próprio local onde Giordano Bruno foi executado: o Campo de' Fiore, em Roma, Itália (Foto: Sputnikcccp)
Comentários: 6
Muito grata, Fernando, por me ter trazido aqui e colocado na excelente companhia de Giordino Bruno.
O meu sempre forte e grato abraço.
Bela partilha!
Maria João Brito de Sousa, grato estou eu por estes momentos de beleza em estado puro que me proporcionou. Escrever sonetos não é para qualquer pessoa, dado o rigor das suas regras e o efeito que se espera que eles provoquem em quem os ouve ou lê, sobretudo no seu final. Ainda mais difícil será escrevê-los quando se pretende "subvertê-los", sem que eles se tornem grotescas caricaturas de si mesmos. Muito obrigado.
Rogério G. V. Pereira, a partilha é bela, sem dúvida, e o mérito é de quem teve o talento de exprimir essa beleza em palavras que eu seria completamente incapaz de escrever.
Só agora reparo que o nome de Giordano Bruno foi vítima de um erro tipográfico. Peço desculpa. Estes erros, fruto da minha péssima acuidade visual, cada vez vão sendo mais abundantes na minha escrita...
Lamento muito, minha amiga, que tenha uma péssima acuidade visual. De bom grado eu a ajudaria a melhorá-la.
Eu, por minha parte, não me posso queixar da acuidade (pelo menos para já), mas não tenho visão estereoscópica. Ambos os meus olhos estão funcionais, mas só consigo fixar os objetos com um dos olhos, enquanto o outro me dá uma visão periférica do seu lado respetivo apenas. A sensação de relevo e profundidade é-me dada pelas sombras e pela proporção relativa dos objetos à minha frente. Isto foi fruto de um grave acidente que sofri quando tinha 1 ano de idade (queda de uma janela de um 1.º andar para a rua) que me provocou um acentuadíssimo estrabismo. Fui sujeito a duas operações cirúrgicas para correção do estrabismo, mas uma muito pequena deformação do crânio, resultante do acidente, não me permite sobrepor as imagens dos dois olhos de modo a formar uma imagem só. Nada disto foi obstáculo a que eu tivesse ido parar à guerra colonial como combatente.
Lamento que tenha ido parar à famigerada guerra colonial, apesar da sua diplopia.
Quanto a mim,se as minhas queixas físicas se resumissem à péssima acuidade visual, não seria mau de todo. Mas não quero nem vou deixar-lhe aqui um verdadeiro tratado de mazelas e maleitas herdadas... apenas lhe digo que, de momento, ando com um colete de Jewet. Fractura quase espontânea da L2.
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