António Dacosta
O Usurário, 1940, óleo sobre tela de António Dacosta (1914–1990), Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal
Nascido em 1914 em Angra do Heroísmo, Açores, António Dacosta foi um pintor e crítico de arte português, dos mais importantes do séc. XX. Foi introdutor em Portugal da corrente surrealista, juntamente com António Pedro e Pamela Boden, com quem realizou uma exposição conjunta em 1940, a qual se opôs frontalmente ao triunfalismo imperial da Exposição do Mundo Português, que o Estado Novo realizou nesse mesmo ano em Lisboa. Às fanfarras do regime, António Dacosta e os seus companheiros opuseram uma inquietação expressa em quadros delirantes, que realçavam o absurdo do seu tempo e uma profunda inquietação perante o futuro. Esta inquietação era tanto mais intensa quanto se iniciava nesse momento a Segunda Guerra Mundial.
Em meados da década de 40, a pintura de António Dacosta foi-se tornando cada vez mais abstrata, até que em 1949 o artista deixou quase completamente de pintar. Seguiram-se trinta anos em que ele se dedicou primordialmente à crítica de arte e à crónica literária. Voltou a pintar em meados da década de 70 e realizou uma exposição em 1983, com obras que já não eram angustiadas e delirantes, mas antes estavam possuídas de poesia e de mistério. Faleceu em Paris em dezembro de 1990.
Serenata Açoriana, 1940, óleo sobre tela de António Dacosta (1914–1990), Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal
Episódio com um Cão, 1941, óleo sobre tela de António Dacosta (1914–1990), Ministério da Cultura, Lisboa, Portugal
A Festa, 1942, óleo sobre madeira de António Dacosta (1914–1990), Ministério da Cultura, Lisboa, Portugal
Cena Aberta, 1940, óleo sobre tela de António Dacosta (1914–1990), Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal
Comentários: 3
Não conhecia António Dacosta.
Deixe que aprecie a obra de Dacosta no contexto da minha própria evolução perante as correntes surrealistas (da arte plástica, à pintura e à escrita). Enquanto adolescente e depois pelos primeiros anos de juventude, entendi (erradamente) que o surrealismo era uma resposta à corrente neorrealista e, de certa forma, uma corrente reaccionária.
Foi em Maio de 1971, quando me dei ao trabalho de conhecer melhor pintores e correntes porque apostado num projecto que sairia frustrado (ver "Almas Que Nunca Foram Fardadas, páginas de 158 a 161)que conheci a obra de Paula Rego. Aí revi o preconceito. A Paula Rego deu-me a volta. Aprendi que o surrealismo oferece uma perspectiva diferente, e que ao desconstruir a realidade dá-lhe outra dimensão.
Voltando a António Dacosta, as obras "Episódio com um Cão" e a "Festa", para além da dimensão estética, dão que pensar...
Prezado Rogério,
Fui ler as páginas que me indicou e confesso que me sinto muito admirado com o facto de que, numa biblioteca do Huambo colonial, pudesse haver livros que falassem de Paula Rego, Maluda ou Amadeo de Souza-Cardoso. Afinal a biblioteca não devia ser nada má.
Quanto ao surrealismo, estou em total acordo consigo. À primeira vista, a arte surrealista parece ser uma arte sem pés nem cabeça, em que o artista terá pintado aquilo porque sim, porque lhe apeteceu, como poderia ter pintado outra coisa qualquer. Nada mais errado (pelo menos em muitos casos). Temos que procurar nela significados que, não parecendo evidentes, estão efetivamente lá. Além do seu aspeto estético, a arte surrealista é um desafio à nossa compreensão e mesmo à nossa imaginação. Daí a sua riqueza.
Na verdade,a biblioteca nem era má... contudo, não se tratava de livros, mas de simples catálogos de exposições realizadas. REcordo, vagamente, que no caso da Paula Rego se tratava de uma exposição na Sociedade Nacional das Belas Artes...
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