06 novembro 2018

António Pedro


Rapto na Paisagem Povoada, 1946, óleo sobre tela de António Pedro (1909–1966), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

Nascido em 1909 na cidade da Praia, Cabo Verde, filho de um português e de uma britânica, António Pedro Costa foi uma das personagens mais determinantes da cultura portuguesa nos meados do séc. XX. António Pedro foi um artista e intelectual multifacetado, tendo desenvolvido uma intensa atividade como pintor, ceramista, escritor, ator, encenador, jornalista, editor, locutor de rádio, etc. etc.

Como pintor, António Pedro foi um dos artistas mais marcantes da corrente surrealista portuguesa. Em 1940, realizou com António Dacosta e Pamela Boden a primeira exposição surrealista em Portugal. Em 1947 fez parte do Grupo Surrealista de Lisboa, juntamente com António Dacosta, Marcelino Vespeira, Mário Cesariny e outros. Porém, em 1944, um funesto incêndio destruiu muita da sua obra pictórica. Pela qualidade das telas da sua autoria que chegaram até hoje, podemos avaliar quão grande foi a perda causada pelo fogo.

Uma atividade a que António Pedro se dedicou com extraordinário empenho foi a atividade teatral. Entusiasta do teatro experimental e de vanguarda, António Pedro foi encenador do Teatro Experimental do Porto (TEP), entre 1953 e 1961. É completamente impossível falar do TEP sem que se tenha que fazer referência a António Pedro.

A seguir, António Pedro foi encenador do Teatro Universitário do Porto, isto num tempo em que algumas companhias de teatro constituídas por estudantes universitários estavam na vanguarda do teatro em Portugal. Nunca será demais lembrar a ação então desenvolvida pelo Cénico de Direito em Lisboa, pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), pelo Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), e outras companhias mais. Enquanto isso, António Pedro apresentava na televisão um programa chamado "António Pedro Fala sobre Teatro", em que ele procurou, de forma coloquial e não maçadora, estimular o gosto do público pelo teatro. A atividade de António Pedro à frente do TUP foi de curta duração, infelizmente, pois este notável homem das artes e das letras faleceu em 1966 em Moledo, Caminha.


Intervenção Romântica, 1940, óleo sobre tela de António Pedro (1909–1966), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

Comentários: 3

Blogger Rogério G.V. Pereira escreveu...

Boa lembrança!

07 novembro, 2018 00:28  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Cruzei-me algumas vezes com António Pedro na rua, aqui no Porto. Tinha uma figura que impunha um certo respeito, pelas barbas que usava e pela sua estatura relativamente elevada. Mas não era pretensioso.

Um outro encenador de grande valor, que tive o prazer de conhecer e com quem cheguei a dialogar, foi Joaquim Benite. Em 1975 e anos seguintes, ele vinha ao Porto com muita frequência. Ao fim da tarde, um grupo de amigos costumava juntar-se à porta do Café Imperial (que é agora um Mc Donalds), à espera que chegasse o Diário de Lisboa, que vinha de comboio e era descarregado na estação de S. Bento. De vez em quando o Joaquim Benite aparecia, juntava-se ao grupo e contava coisas sobre a sua atividade teatral em Almada e não só.

07 novembro, 2018 17:40  
Blogger Rogério G.V. Pereira escreveu...

Trabalhei no Diário de Lisboa, como revisor, e privei muitas vezes com o Joaquim Benite
Há 6 anos, quando partiu, deixei-lhe (ao meu estilo) sentida homenagem

https://conversavinagrada.blogspot.com/2012/12/joaquim-benite-in-memoriam-1943-2012.html

09 novembro, 2018 11:32  

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