Hans Silvester
Hans Silvester é um fotógrafo profissional alemão, nascido em 1938 e residente em França. Das suas viagens pelo mundo resultou um conjunto bastante numeroso de livros, alguns dos quais costumam estar à venda na secção de fotografia ou de arte nas livrarias. Dizem que o seu livro mais popular tem os gatos das ilhas gregas como tema, mas os seus trabalhos mais notáveis são certamente fruto das viagens que ele fez a África, sobretudo ao vale do Rio Omo, no sul da Etiópia.
O Rio Omo nasce no coração da Etiópia e desagua no Lago Turkana, na fronteira com o Quénia. As belíssimas fotografias que Hans Silvester fez das gentes que vivem nas margens deste rio têm causado espanto em todo o mundo. Elas revelam um conjunto de tribos cujos membros fazem dos seus próprios corpos sublimes obras de arte, mas cuja cultura, ao que tudo indica, se encontra ameaçada de extinção a muito curto prazo, em consequência do avanço do dito mundo moderno.
A Etiópia é um país que tem vindo a passar por um período de grande crescimento económico e está apostada em tornar-se num grande produtor de energia elétrica, tanto para consumo interno, como para exportar para os países vizinhos. Com este fim em vista, lançou-se num ambicioso programa de construção de barragens nos seus principais rios. Poucos dias depois de ter sido anunciado que o Prémio Nobel da Paz 2019 era atribuído ao primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, este anunciou a construção de mais uma barragem, desta feita no Rio Nilo Azul, o que provocou um justificado alarme no Egito, país que depende do Nilo de forma crítica. Abiy Ahmed afirmou que a barragem vai mesmo ser construída, ainda que para isso tenha que haver uma guerra entre a Etiópia e o Egito. Nada mau para quem acabou de ganhar um Prémio Nobel da Paz!
O Rio Omo e os seus afluentes também não escaparam ao programa de construção de barragens lançado pelos governos etíopes. Várias barragens já foram construídas, a última das quais é a chamada Gibe III, no próprio Rio Omo, que se tornou na mais alta barragem de toda a África, com a sua parede de betão de 243 metros de altura! Calcula-se que a vida de cerca de meio milhão de pessoas já está a ser seriamente afetada por esta barragem. O enchimento da albufeira, para começar, já provocou uma gravíssima falta de água a jusante e consequentemente a fome na população local.
Além disso, espera-se que a água retida na barragem de Gibe III possa vir a ser usada como meio de irrigação na agricultura industrial. O governo etíope já começou a concessionar vastíssimas extensões de terras, que eram usadas como pastos para o gado pelos habitantes da região, para a monocultura de cana-de-açúcar. O que tenciona então o governo fazer às pessoas que lá vivem? Vai deixá-las morrer sem meios de subsistência?
Tudo leva a crer, portanto, que as imagens feitas por Hans Silvester e outros visitantes ao vale do Rio Omo possam vir a ser, dentro em breve, o último e trágico testemunho de uma civilização original que cultivava a beleza.
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
(Foto: Hans Silvester)
Comentários: 0
Enviar um comentário