Nesta hora
Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade
Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida
O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados
Não basta gritar povo
É preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar
Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto do terrestre
– Sob o ausente olhar silente de atenção –
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919–2004)
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade
Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida
O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados
Não basta gritar povo
É preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar
Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto do terrestre
– Sob o ausente olhar silente de atenção –
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919–2004)
Comentários: 5
Começar o ano com Sophia
é um bom começo
que saúdo!
... até porque bate certo
com a minha Ode
Eu não quero metade, quero tudo a que tenho direito !... nesse direito meu há deveres de ajudar quem precisa e de dar a metade que possa faltar a outros !!!
Com este poema de Sophia, assinalei o 15.º aniversário deste blog, que comecei a publicar em 1 de janeiro de 2006 com este mesmo aspeto.
Já é de certo modo uma tradição minha iniciar um novo ano com um poema de Sophia de Mello Breyner Andressen, embora nem sempre o tenha feito. Fi-lo agora de novo.
Votos de um Bom Ano, inteiro e não pela metade.
Parabéns pelos 15 anos de blogue! O meu faz 11 em julho e, quando comecei, não pensei que esta aventura ia durar tanto tempo...
Feliz Ano Novo! Sophia de Mello Breyner é sempre uma bonita escolha.
Bom domingo:))
Um ano e meio depois de ter iniciado a publicação deste meu blog, interrompi-a, porque estava a perder muito tempo com ele. Voltei dois anos e meio depois, roído pelo "bichinho" que já se tinha instalado, mas tive que renunciar a fazer outras coisas, porque o tempo não é elástico. E ainda cá ando, sabe-se lá até quando.
Bom Ano Novo.
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