Nossa Senhora da Visitação, Montemor-o-Novo
Fachada principal do santuário de Nossa Senhora da Visitação, em Montemor-o-Novo (Foto: MaximoMF)
Há feitiço em Montemor-o-Novo e no seu concelho. Nesta parte do Alentejo existem locais que são verdadeiramente mágicos: o incomparável cromeleque dos Almendres (pertencente ao concelho de Évora), a enorme anta do Zambujeiro (também pertencente ao concelho de Évora), a gruta do Escoural, com pinturas rupestres e cerâmica do neolítico, a anta-capela de Nossa Senhora do Livramento e (embora não seja pré-histórico) o santuário de Nossa Senhora da Visitação.
Há qualquer coisa no local onde se ergue o santuário de Nossa Senhora da Visitação que nos faz sentir em paz e sem vontade de sair dali. O que é, não sei. Só se sente. Será o relativo silêncio, apesar da proximidade da cidade? Será a vizinhança da também mágica Estrada Nacional N.º 2, antiga coluna vertebral de Portugal Continental, que liga Chaves a Faro? Será outra coisa? Não sei.
O santuário de Nossa Senhora da Visitação começou por ser uma ermida do séc. XVI, em estilo manuelino rural, a qual veio a sofrer mais tarde grandes modificações, ocorridas no séc. XVIII. Ao contrário do que muitas vezes sucede em tais intervenções, o resultado final é muito interessante. Tem beleza e tem harmonia. Contribui para a magia do lugar.
Vale a pena ir a Montemor-o-Novo e visitar o santuário de Nossa Senhora da Visitação, mas é preciso não esquecer o convento dominicano de Santo António, as ruínas do castelo e tudo quanto Montemor-o-Novo tem para oferecer. E tem muito. Apesar de ser uma pequena cidade, Montemor-o-Novo possuía uma extraordinária e vibrante vida cultural, a que a pandemia de covid-19 veio impor uma forçada paragem. Deseja-se que uma tal vitalidade regresse com redobrada energia, para bem da cultura, de Montemor-o-Novo, do Alentejo e do país.
De cá para lá. Vista de Montemor-o-Novo a partir das ruínas do castelo. Em último plano, recortado no horizonte, vê-se o santuário de Nossa Senhora da Visitação (Foto: Andre)
De lá para cá. Vista de Montemor-o-Novo a partir do santuário de Nossa Senhora da Visitação. Ao fundo, o monte (mor) no alto do qual estão as ruínas do castelo (Foto: Napoleão P)
Pormenor da fachada principal da ermida de Nossa Senhora da Visitação (Foto: Mario C)
Portal manuelino da ermida de Nossa Senhora da Visitação (Foto: Francisco Oliveira)
Teto manuelino da ermida de Nossa Senhora da Visitação (Foto: Mario C)
As paredes do interior da ermida de Nossa Senhora da Visitação estão revestidas de painéis de azulejos setecentistas (Foto: Mario C)
Um dos muitos ex-votos existentes na casa dos milagres do santuário de Nossa Senhora da Visitação, com a seguinte legenda: Milagre que fez N. S. da Vizitação a Joaq.m An.to Giraldo, e a sua mulher Mariana Rita, por os ter salvo do grande prigo que currerão no dia 12 d'Abril de 1883, pela invasão dos presos da cadeia d'esta villa de Monte-mór o Novo
Comentários: 7
Conheço Montemor, mas pelos vistos mal. Pois nao tive a oportunidade de conhecer interiormente, o santuário de "Nossa Senhora da Visitação".
Lembro-me do excelente restaurante que existe por lá, "Sampaio", onde se come/comia muitíssimo bem !
Como quase toda a gente, eu só conhecia Montemor-o-Novo de passagem. Durante alguns meses fiz tropa em Évora e, nas minhas idas e vindas ao Porto nos fins de semana, passava forçosamente por Montemor-o-Novo, porque naquele tempo o país não era atravessado por auto-estradas.
É claro que, em comparação com Évora e com a sua espantosa riqueza monumental, Montemor-o-Novo não tem praticamente nada que valha a pena ver. Aparentemente só tem que comer, mas isso Évora também tem. Nos anos 90 do século passado, no entanto, decidi finalmente descobrir o que Montemor-o-Novo tem para oferecer, por pouco que fosse, e foi então que descobri o santuário de Nossa Senhora da Visitação, assim como a gruta do Escoural, a poucos quilómetros de distância. Já conhecia as muito cenográficas ruínas do castelo, a gigantesca anta do Zambujal e o fascinante cromeleque dos Almendres, um conjunto de não sei quantas dezenas de menhires envoltos numa atmosfera mágica, uma espécie de Stonehenge à portuguesa, mas muito mais antigo do que o Stonehenge inglês.
Há não sei quantos anos, talvez na sequência da criminosa extinção do Ballet Gulbenkian, o coreógrafo e bailarino Rui Horta decidiu criar raízes em Montemor-o-Novo, abrindo na cidade um centro de excelência dedicado ao bailado. Atrás dele foram outros bailarinos e foram outros artistas, e Montemor-o-Novo acabou por se tornar num polo cultural de primeira grandeza de nível internacional. Decididamente, Montemor-o-Novo tem mesmo muito para ver. E não parece.
Fernando grato pela resposta e pela informação interessante, sobre a zona de Montemor-o-Novo.
Abraço
Caro Ricardo, tenho duas correções a fazer, pelas quais peço muita desculpa. A primeira correção diz respeito ao nome da anta a que chamei "do Zambujal" na resposta ao seu comentário. A anta não se chama "do Zambujal", mas sim "do Zambujeiro", como está referido no texto do post. A segunda correção diz respeito ao concelho a que pertencem a anta do Zambujeiro e o cromeleque dos Almendres. Como estes dois monumentos megalíticos se situam entre Évora e Montemor-o-Novo (mais ou menos), eu erradamente considerei-os pertencentes ao concelho de Montemor-o-Novo. Na verdade, ambos pertencem ao concelho de Évora. Apresento o meu pedido de desculpas.
Fiquei rendida com o portal manuelino que se apresenta como que escondido na sombra do abrigo do átrio da entrada do santuário.
Curioso que, com exceptuando o tamanho da fachada e os pormenores manuelinos, este templo fez-me lembrar o estilo dos "Impérios" que existem na Ilha Terceira e que ainda estes dias estive a revisitar no blogue do Ricardo Santos.
Gostei imenso de conhecer mais um pouco de um lugar que conheço tão pouco.
Beijinhos Minhotos
(^^)
De Montemor ao Lavre é um salto
vá lá
e visite a casa onde viveu Saramago
Confesso que nunca parei em Lavre, das vezes em que por lá passei, umas antes do 25 de Abril e outras (três ou quatro) depois. Eu não sabia sequer que Saramago viveu durante algum tempo em Lavre e que foi lá que escreveu "Levantado do Chão". De certo modo, a culpa é do próprio Saramago, porque um dos livros que mais consulto durante as minhas andanças pelo país tem sido a "Viagem a Portugal", que ele mesmo escreveu. E o que diz Saramago sobre Lavre em "Viagem a Portugal"? Apenas isto:
(...) O viajante entra na aldeia de Lavre, vai bater a uma porta. É casa de amigos. Aí dormirá.
Algumas linhas mais abaixo, e já a respeito do nome de Ponte de Sor, Saramago escreveu:
(...)o viajante, vendo que a montante vem desaguar a ribeira de Longomel, fica a pensar que doce nome teria Ponte de Sôr se se chamasse Longomel. Lá para cima há Longos Vales, justo seria que tão longa terra como esta de Alentejo tivesse uma palavra que a dissesse em bem, já que outra lhe não falta que a diz em mal: latifúndio. Isto é: Longador.
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