Soneto do trabalho
Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.
Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas,
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.
Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reação não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.
Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.
José Carlos Ary dos Santos (1936–1984)
Moeda italiana de 50 liras, cunhada em 1972 e representando o deus Vulcano (Foto de autor desconhecido)
Comentários: 6
Um dos mais belos sonetos de todos os tempos... Está no "Top 10" dos meus favoritos, este soneto de Ary.
Feliz 1º de Maio!
Muito bom, sempre actual!
~CC~
Ary dos Santos um irreverente mestre das palavras. Lindíssimo poema !
A moeda é um trabalho muito interessante !
Confesso que sou um grande admirador de José Carlos Ary dos Santos. Tinha um talento insuperável, não desfazendo em Maria João Brito de Sousa.
Para ilustrar este soneto, procurei na internet uma imagem que nos desse uma impressão de vigor no trabalho. O Duckduckgo (raramente recorro ao Google) propôs-me esta moeda de 50 liras, que aceitei. A lira, que era o padrão monetário da Itália, estava tão desvalorizada, tão desvalorizada, que o valor real desta moeda de 50 liras era mínimo, talvez menos de um cêntimo de euro!
Pode "desfazer-me" à vontade, Fernando, sei que não tenho a "garra" do Ary... Quem me dera :)
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