Elogio barroco da bicicleta
Andando de bicicleta no Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil (Foto: Pirathá Mars)
Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais — eu que era um teórico
do ar livre — e revendo o passarame à obra.
Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me entangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.
Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,
dá-me as asas — trrrim! trrrim! — pra que eu possa traçar
no quotidiano asfalto um oito exemplar!
Alexandre O'Neil (1924–1986)
Comentários: 2
Dificilmente me ocorreria ir buscar o barroco para adjectivar um poema de A. O`Neil mas, lido este seu arremedo de soneto shakespeariano, compreendi.
Um abraço!
Cara Maria João, quem adjetivou o poema como barroco foi o próprio Alexandre O'Neil, não fui eu.
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