18 julho 2022

Mazepa


Mazeppa (c. 1820), óleo sobre tela de Théodore Géricault (1791–1824). Coleção particular

Ivan Stepanovich Mazepa-Koledinsky (c. 1632–1709) foi um príncipe polaco e chefe militar na Ucrânia, em Zaporijjia, cuja vida foi muito agitada e complexa. Enquanto era pajem do rei da Polónia João II Casimiro, Mazepa ter-se-ia tomado de amores pela mulher de um conde, que era trinta anos mais velho do que ela. Descoberto o adultério, Mazepa teria sofrido um castigo, à volta do qual se construiu uma lenda de que Lord Byron deu conta num seu poema muito longo, primeiro, e Victor Hugo num outro poema, depois.

De acordo com os poemas de Lord Byron e Victor Hugo, Mazepa foi amarrado nu a um cavalo selvagem, que a seguir foi largado num louco galope que durou três dias sem parar, atravessando montanhas, rios, desertos e florestas e que acabou por morrer exausto (o cavalo) na Ucrânia. Aqui, uma jovem encontrou Mazepa ainda vivo, amarrado ao cavalo morto, e os cossacos acabaram por fazer dele seu hetman, chefe militar. Esta lenda inspirou os delírios românticos de Lord Byron, Victor Hugo, do compositor húngaro Franz Liszt e de vários artistas plásticos.


Uma Jovem Cossaca Encontra Mazeppa Inconsciente num Cavalo Selvagem (1851), óleo sobre madeira de Théodore Chassériau (1819–1856). Museu da Cidade de Estrasburgo, Estrasburgo, França

Mazepa foi chefe guerreiro da Ucrânia. Umas vezes apoiou o czar da Rússia, Pedro I, o Grande, e outras vezes combateu-o, ao tornar-se aliado do rei da Suécia, Carlos XII. Alega-se que esta reviravolta nos apoios de Mazepa à Rússia se deveria ao facto de Pedro o Grande não ter honrado um compromisso assumido, que consistiria em ajudar Mazepa a defender a Ucrânia das ambições expansionistas do Império Otomano. Mazepa teria então procurado o apoio do rei da Suécia, inimigo de Pedro o Grande. Para os russos, Mazepa tornou-se um traidor, que trocou a Rússia pela Suécia. No final, Pedro o Grande derrotou Carlos XII (e Mazepa com ele), na batalha de Poltava, e consolidou o seu imenso poder. Mazepa acabou por morrer exilado na Moldávia, que então pertencia ao Império Otomano.


Mazeppa no Cavalo Moribundo (1824), óleo sobre tela (provavelmente um estudo) de Eugène Delacroix (1798–1863). Kansallisgalleria, Ateneum, Helsínquia, Finlândia

Aos poetas e artistas do séc. XIX, pouco interessaram as reviravoltas políticas e militares de Mazepa. O que lhes interessou mesmo foi a sua lendária cavalgada, amarrado ao dorso de um corcel, por amor a uma mulher. Tão romântico!

O longo poema de Lord Byron dedicado a Mazepa pode ser lido na página https://www.poetryverse.com/lord-byron-poems/mazeppa.

O poema de Victor Hugo, mais curto, está na página https://www.poeticous.com/victor-hugo/mazeppa-a-m-louis-boulanger.


Mazeppa e os Lobos (1826), óleo sobre tela de Horace Vernet (1789–1863). Museu Calvet, Avignon, França

O poema de Victor Hugo inspirou o compositor e pianista húngaro Franz Liszt, que escreveu o poema sinfónico "Mazeppa", estreado em 1854. Esta peça sinfónica procurou reproduzir por música o que Victor Hugo contou por palavras.


Mazeppa, poema sinfónico de Franz Liszt (1811–1886), pela Orquestra Nacional da Ópera de Montecarlo, dirigida por Paul Paray

Comentários: 2

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Que fabuloso poema sinfónico, este Mazeppa de Franz Liszt!

Abraço, Fernando!

18 julho, 2022 10:51  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Cara Maria João,
Franz Liszt é bem um exemplo do compositor romântico: apaixonado e fogoso. Ele foi um dos maiores compositores da sua época, sem qualquer sombra de dúvida, e, pelo que se conta, terá sido também o maior pianista de sempre. Infelizmente, no seu tempo a tecnologia ainda não permitia fazer gravações.

20 julho, 2022 02:02  

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