Mia madre velida
Mia madre velida,
vou-m'a la bailia
do amor.
Mia madre loada,
vou-m'a la bailada
do amor.
Vou-m'a la bailia
que fazem em vila
do amor.
[Vou-m'a la bailada
que fazem em casa
do amor.]
Que fazem em vila
do que eu bem queria
do amor.
Que fazem em casa
do que eu muit'amava
do amor.
Do que eu bem queria;
chamar-m'-am garrida
do amor.
Do que eu muit'amava;
chamar-m'-am perjurada
do amor.
Cantiga de amigo de D. Dinis (1261–1325), rei de Portugal e trovador
GLOSSÁRIO
velida - bela, formosa
bailia - baile
loada - louvada
chamar-m'-am - chamar-me-ão
NOTAS
1 — D. Dinis exprime as palavras de uma donzela, que anuncia à sua mãe que vai ao baile, na vila, em casa do seu amado, mesmo sabendo que talvez seja criticada por isso.
2 — A estrofe que está entre parêntesis retos falta nos manuscritos originais, mas foi possível inseri-la com poucas probabilidades de erro, dada a forma paralelística da composição.
3 — A métrica do verso «chamar-m'-am perjurada» é excessiva. Por isso, alguns especialistas substituíram a palavra «perjurada» por «jurada», com o sentido de prometida, noiva. Porém, nos manuscritos está de facto grafada a palavra «perjurada», que significa falsa, alguém que cometeu perjúrio. Como a palavra «garrida», na estrofe anterior, parece ter um tom ligeiramente reprovador para a donzela, há quem seja da opinião de que talvez «perjurada» seja mesmo a palavra correta.
Ma Madre velida, cantiga de amigo do rei D. Dinis (1261–1325) e da qual só se conhece o poema, musicada e cantada por José Mário Branco (1942–2019)
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