No outono
No outono,
Quando a vinha se ensanguenta
E as folhas caem com sono
Sobre a terra lamacenta,
O sol,
Ao romper a madrugada,
Derrama um frouxo arrebol
Num céu de cinza molhada.
O frio,
Que vem das serras distantes,
Semeia escamas brilhantes
Nas águas turvas do rio;
Murmura
A carvalheira plangente,
E a escassa luz do nascente
Não alumia, de escura.
Depressa,
O dia passa, embuçado…
E quando a noite começa,
Envolta em luto pesado,
A nossa melancolia
Diz-nos que a morte é um sono.
E a vida a imagem de um dia
Do outono!
João Saraiva (1866–1948)
Outono no Alto Douro (Foto de autor desconhecido)
(Clicar na imagem para ampliá-la)
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