Violinos
Violinos choram com os ciganos que se vão a Alandalus
Violinos choram pelos árabes que saem de Alandalus
Violinos choram por um tempo perdido que não volta
Violinos choram por uma pátria perdida que tem volta
Violinos incendeiam as matas de uma escuridão sem
[fronteiras
Violinos sangram os dentes farejando meu sangue nas[veias
Violinos choram com os ciganos que se vão a Alandalus
Violinos choram pelos árabes que saem de Alandalus
Violinos são cavalos em cordas de miragem e água
[gemente
Violinos são campo de violetas selvagens ora perto ora[distante
Violinos são animal fustigado por unha de mulher que o
[arranha e ele se afasta
Violinos são exército que ergue túmulos de mármore e[alabastro
Violinos são o caos de um coração enlouquecido pelo
[vento do pé da dançarina
Violinos são bandos de pássaros que saltam de bandeira[desaparecida
Violinos são queixas da seda enrugada na noite da
[apaixonada sozinha
Violinos são a voz de um vinho distante a cobrir um[desejo antigo
Violinos me perseguem ali, aqui, para vingarem-se de
[mim
Violinos querem matar-me sempre e onde me viremViolinos choram pelos árabes que saem de Alandalus
Violinos choram com os ciganos que se vão a Alandalus
Mahmoud Darwish (1941–2008), poeta palestiniano. Tradução de Michel Sleiman
Alandalus ou Al Andaluz — Nome dado ao território governado pelos árabes na Península Ibérica medieval
Violino feito em 1987 pelo conceituadíssimo luthier António Capela, de Anta, Espinho (Foto de autor desconhecido)
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