03 novembro 2021

Entrei no café com um rio na algibeira


Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação…

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
—onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.

José Gomes Ferreira (1900–1985)


(Foto: Paulo Videira da Costa)

Comentários: 6

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Não conhecia este poema do JGF. Conquistou-me o título, de imediato. Depois o rio foi-me inundando até à última palavra.

Abraço!

03 novembro, 2021 09:40  
Blogger Rogério G.V. Pereira escreveu...

Vou tentar descobrir
quem cante isto
acabo de decidir
passar a ser meu hino

03 novembro, 2021 10:27  
Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

"Roubei" o título deste poema do Zé Gomes Ferreira e teci-o à minha maneira... :)

Claro está que identifiquei o primeiro verso como sendo de JGF.

04 novembro, 2021 09:58  
Blogger NAMIBIANO FERREIRA escreveu...

Um eterno prayer ler um grande poeta!
Obrigado por esta partilha poética.

04 novembro, 2021 20:09  
Blogger NAMIBIANO FERREIRA escreveu...

*prazer

04 novembro, 2021 20:10  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Está visto que José Gomes Ferreira escreveu este poema à mesa de um café, e que estava inspiradíssimo. Foi um grande poeta, sem dúvida nenhuma, e nós somos uns privilegiados por podermos lê-lo.

05 novembro, 2021 02:24  

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