Canção do verdadeiro abandono
Podem todos rir de mim,
podem correr-me à pedrada,
podem espreitar-me à janela
e ter a porta fechada.
Com palavras de ilusão
não me convence ninguém.
Tudo o que guardo na mão
não tem vislumbres de além.
Não sou irmã das estrelas,
nem das pombas nem dos astros.
Tenho uma dor consciente
de bicho que sofre as pedras
e se desloca de rastos.
Natércia Freire (1919–2004)
Lagarto verde (Foto: Manuel Estébanez Ruiz)
Comentários: 6
Então?
De pé
de pé
de rastos não!
Magnífico poema de Natércia Freire!
Abraço!
Que bonito, confesso que não a conhecia...vou procurar mais.
~CC~
Há aqui mais alguns poemas de Natércia Freire: https://citador.pt/poemas/a/natercia-freire.
Eu sou "lagarto" do Sporting Clube de Portugal, mais nada :)))
Bonita poesia e bem associada so réptil !
Eu não ligo ao futebol e não tenho clube. Passo a explicar porquê.
Quando eu era miúdo, era portista, como toda a gente à minha volta. Mais tarde, na escola primária, descobri que era completamente incapaz de jogar à bola. Sendo acentuadamente estrábico, eu chutava para um lado e a bola ia sempre para outro. Por causa disso, os outros miúdos não queriam que eu jogasse na equipa deles, lá no recreio da escola, e eu ficava sistematicamente de fora. Deixei então de gostar de futebol. Até hoje.
Mesmo assim, no liceu voltei a tentar a jogar futebol, porque já tinha sido operado aos olhos. No entanto, já era tarde demais para aprender a jogar como deve ser e continuei a ser um desastrado. De qualquer modo, cheguei a jogar algumas (poucas) vezes como guarda-redes, não porque defendesse bem, mas porque era maluco e atirava-me para os pés do adversário que se preparava para chutar à baliza. Com receio de me atingir, este inibia-se de chutar e a bola não entrava...
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