05 junho 2014

As Fisgas de Ermelo


Fisgas, Ermelo, Mondim de Basto (Foto: Húsönd)

Embora se situe em Trás-os-Montes, o concelho de Mondim de Basto é tido como um concelho de transição entre o Minho e Trás-os-Montes. E é verdade. Há partes do concelho que são claramente minhotas e há partes que são claramente transmontanas. A designação Basto, que é acrescentada ao nome da vila sede do concelho, remete-nos imediatamente para as Terras de Basto, que são indiscutivelmente minhotas. Celorico de Basto, Cabeceiras de Basto, Arco de Baúlhe e outras localidades ficam no Minho. Das Terras de Basto, só Mondim fica em Trás-os-Montes. É verdade que fica em Trás-os-Montes, mas a vila apresenta características que são muito mais minhotas que transmontanas.

Para simplificar, podemos dizer o seguinte: as zonas baixas do concelho de Mondim de Basto, nomeadamente as que bordejam o Rio Tâmega e a própria sede do concelho, são mais minhotas que transmontanas; as zonas serranas, essas, são mais transmontanas que minhotas.

Esta diversidade de paisagens, e até de costumes e tradições, torna o concelho de Mondim de Basto extraordinariamente interessante. Ainda mais interessante ele nos aparece se nos lembrarmos que é nele que se encontram algumas das paisagens mais belas que em Portugal continental existem. Desde as verdejantes margens do Tâmega até aos píncaros do Monte Farinha e, sobretudo, até às Fisgas de Ermelo e ao Parque Natural do Alvão em geral, não faltam no concelho de Mondim de Basto motivos de deslumbramento.

As Fisgas de Ermelo são uma enorme fenda natural aberta no flanco da Serra do Alvão, por onde se despenham, em cascata, as águas límpidas e cristalinas do pequeno Rio Olo, afluente do Rio Tâmega. A beleza do lugar é de cortar a respiração. A grandiosidade das Fisgas é de provocar vertigens. Não posso deixar de citar Miguel Torga, ele mesmo um transmontano de antes quebrar que torcer, que escreveu:
Ermelo, Marão, 2 de Outubro de 1959 — Cá me vim debruçar também sobre o despenhadeiro das Fisgas, com os pés seguros pelos companheiros por causa das vertigens. E apreciei devidamente este misto de espanto e terror. A contemplação dos abismos naturais é necessária de vez em quando a quem tem a atracção dos outros. Toma-se consciência, com rigor físico, das asas que nos faltam para estar à altura da máxima de Nietzsche…
Miguel Torga, Diário VIII (1959)

Uma última palavra se impõe a quem visita as Fisgas de Ermelo: respeito. As Fisgas de Ermelo são uma oferta da Natureza que temos a obrigação de respeitar e preservar. As gerações que se seguirem à nossa têm tanto direito a disfrutá-las como nós próprios. Por isso, não conspurquemos o lugar. Deixemos os nossos carros de lado e andemos a pé ou de bicicleta pela região, sempre que nos for possível. Nesta época do ano, então, um passeio a pé pela serra é particularmente agradável. Além disso, é preciso não esquecer que no verão há bois e vacas (da escura raça maronesa) que andam mais ou menos à solta pela serra, e nenhum automobilista gostará de chocar contra várias centenas de quilos de carne, com quatro patas e um par de chifres, que lhe apareçam paradas no meio da estrada a seguir a uma curva.


A aldeia de Varzigueto, que fica a montante da cascata. O rio que se vê em primeiro plano é o Olo, antes de se despenhar no abismo. A estrada que passa por esta aldeia conduz a uma outra aldeia, chamada Barreiro, que foi talvez ao longo dos séculos a mais recôndita de todo o Alvão, mas que, agora, tem estrada, eletricidade, telecomunicações, rede de água, saneamento, transporte público, etc. Também já teve escola, que deve ter sido encerrada (Foto de autor desconhecido)


Paisagem vista de um ponto sobranceiro às Fisgas. O monte cónico que se vê ao fundo à direita é o Monte Farinha, também chamado Senhora da Graça, segundo o nome do santuário que está no seu cume. Esse monte é o terror dos ciclistas da Volta a Portugal… (Foto: fim)


Em primeiro plano, a fenda aberta na rocha das Fisgas de Ermelo. Ao fundo, a crista da Serra do Alvão (Foto: Fatinha Machado)


A aproximação às Fisgas de Ermelo causa vertigens (Foto: Luis Ferreira)


O Rio Olo inicia a sua descida ao abismo (Foto: Quinta do Fundo)


Tomar banho em algumas das piscinas naturais abertas na rocha pelo Rio Olo é uma experiência inesquecível (Foto: Um Par de Botas)


As Fisgas de Ermelo apresentam condições ideais para a prática de escalada, canyoning, etc. (Foto: Animado e Spagurja)


O Rio Olo a meio da sua descida das Fisgas (Foto: António Nunes)


O Rio Olo depois da descida (Foto: amadalena)

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