09 maio 2015

Igreja da Atalaia, Vila Nova da Barquinha

Fachada principal da igreja matriz da Atalaia, no concelho de Vila Nova da Barquinha (Foto de autor desconhecido)


O topónimo Atalaia é relativamente frequente em Portugal. São várias as localidades que possuem esta designação: simplesmente Atalaia, Atalaia de Cima, Atalaia de Baixo, Póvoa da Atalaia, Senhora da Atalaia, etc. Pois a Atalaia a que agora me refiro, e que possui uma igreja renascentista verdadeiramente notável, é uma localidade situada a um par de quilómetros do Entroncamento e pertencente ao concelho de Vila Nova da Barquinha.

O Entroncamento é uma cidade muito recente, que deve o seu nome ao facto de se situar no local em que entroncam duas linhas de caminho de ferro, a Linha do Norte e a Linha do Leste. O crescimento da cidade deveu-se não só à sua estação ferroviária, onde muitos passageiros e mercadorias mudam de comboio, mas também e sobretudo à implantação, junto desta estação de transbordo, das maiores e mais importantes oficinas ferroviárias do país.

Como cidade recente que é, implantada num local que em meados do séc. XIX ainda era completamente ermo, o Entroncamento não tem palácios nem catedrais. Poderíamos apressadamente concluir, por isso, que é uma cidade sem pergaminhos. Mas a verdade é que os tem. Tem os pergaminhos mais valiosos que uma cidade pode ter, que são os pergaminhos do trabalho e da honradez. Não é qualquer cidade que se pode orgulhar de manter o sistema ferroviário de um país inteiro a funcionar, fazendo circular as pessoas e as mercadorias entre o norte e o sul e entre o este e o oeste.

O Entroncamento pode não ter monumentos dignos de nota (a igreja matriz da cidade, por exemplo, não conta, pois é, até certo ponto, uma imitação da da Atalaia, tendo sido inaugurada em 1940), mas a região envolvente tem-nos, em grande número e grande qualidade. Basta referir o nome de algumas localidades próximas, tais como Torres Novas, Golegã, Vila Nova da Barquinha, Almourol, Constância, Tomar, etc. À volta do Entroncamento não faltam, portanto, igrejas, castelos, conventos, aquedutos, quintas históricas, etc.

Logo à saída do Entroncamento, para norte, está a Atalaia com a sua igreja. Esta, sim, é uma magnífica igreja original da época do Renascimento, embora apresente ainda alguns vestígos arquitetónicos manuelinos. A distância do Entroncamento à Atalaia é tão curta, que poderemos dizer que a Atalaia faz quase parte da própria cidade do Entroncamento.

A igreja matriz da Atalaia é dedicada a Nossa Senhora da Assunção e foi construída no séc. XVI. A fachada principal da igreja sofreu sérias alterações na década de 30 do séc. XX, mas a sua curiosa divisão em cinco panos e o seu portal renascentista são originais. O portal, que é belíssimo, deve-se a João de Ruão, que foi um grande escultor e arquiteto francês radicado em Portugal, com oficina em Coimbra. A capela-mor da igreja deve-se a um outro grande escultor e arquiteto, que também viveu em Coimbra, o asturiano Diogo de Castilho.


Um pormenor do portal principal, da autoria de João de Ruão (1500-1580) (Foto: Jsobral)

Comentários: 2

Blogger Chama a Mamãe! escreveu...

Admiro muito essas maravilhosas obras. Aqui, pelo Brasil,se vê um pouco dessa arquitetura portuguesa. A pena que nos dá é a má conservação. Infelizmente.

10 maio, 2015 14:44  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Esta igreja da Atalaia é do séc. XVI, ou seja, é do tempo em que no Brasil ainda se implantavam as primeiras capitanias hereditárias. Não é assim, cara "Chama a Mamãe"? Corrija-me, por favor, se eu estiver errado. Julgo que a arquitetura portuguesa do Brasil colonial é, na sua maior parte, barroca, portanto, é dos séc. XVII e XVIII. De resto, foi no séc. XVIII que começou a afirmar-se um barroco próprio do Brasil, graças ao génio espantoso do Aleijadinho e de outros arquitetos e escultores brasileiros notáveis.

10 maio, 2015 22:44  

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