14 julho 2017

«O Dia em que Comandei a Companhia»




O texto que hoje pretendo partilhar com os meus visitantes é verdadeiramente arrepiante. É um texto de vida, de morte e, sobretudo, de abnegação para lá do que é possível imaginar. Por isso o partilho e recomendo. Porque os heróis existem.

Não faltam por aí antigos combatentes da Guerra Colonial que arrogantemente se julgam heróis, ou porque fizeram parte desta ou daquela tropa de elite, ou porque arriscaram e sofreram, ou porque fizeram e aconteceram. Tudo isso pode ser verdade, ou não, mas os verdadeiros heróis da Guerra Colonial, os autênticos Heróis com H maiúsculo, foram os cabos auxiliares enfermeiros. Exatamente, os humildes cabos auxiliares enfermeiros, de quem ninguém fala. O que é terrivelmente injusto. Apesar de terem recebido uma preparação escassíssima para as medonhas responsabilidades que deveriam enfrentar nas frentes de combate, os auxiliares enfermeiros ultrapassaram(-se) para lá de tudo o que se possa imaginar. Eles foram enfermeiros, foram médicos, foram psicólogos, foram cirurgiões, foram tudo o que as circunstâncias da guerra exigiram deles, mesmo debaixo das mais atrozes e perigosas condições. Este texto, cuja leitura proponho neste momento, demonstra-o de forma extremamente eloquente. O cabo Costa, que é um dos heróis deste episódio, não foi exceção, foi a regra.

Manuel Correia de Bastos, o autor deste texto, é o associado n.º 1312 da ADFA, Associação dos Deficientes das Forças Armadas. Foi gravemente ferido por uma mina antipessoal, que lhe roubou uma perna, no dia 4 de junho de 1972, em Mueda, Cabo Delgado, norte de Moçambique. Era furriel miliciano da Companhia de Artilharia 3503, do Batalhão de Artilharia 3876, e foi um dos 16 feridos graves que a sua companhia sofreu ao longo de vinte e seis meses de comissão militar. Além destes, a mesma companhia sofreu ainda mais 36 feridos, 5 mortos e 1 desaparecido. Houve um tempo em que a companhia até ficou sem oficiais, tendo sido comandada por um furriel. É a este tempo que se refere o título deste texto. Do capitão e dos alferes que haviam integrado a companhia no início, nenhum permaneceu até ao fim, em consequência do rebentamento de minas ou por doença. A alguns furriéis e soldados aconteceu o mesmo. Manuel Correia de Bastos foi um deles.

Tanto quanto sei, Manuel Correia de Bastos publicou apenas um livro, intitulado "Cacimbados — A Vida por um Fio". Não o li, porque não está disponível no mercado, em resultado da falência da editora. Não sei, portanto, se este episódio faz parte do livro ou não. Seja como for, o seu autor disponibilizou-o no jornal Elo da ADFA, assim como no blog da sua companhia, onde também pode ser lido.

Feita uma breve apresentação do seu autor, passo então a indicar os dois links onde o notável texto pode ser lido:

Pág. 12 da edição de outubro de 2008 do jornal Elo, da Associação dos Deficientes das Forças Armadas;

Post de 15 de outubro de 2008 do blog Histórias da CART 3503.

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