25 setembro 2022

Cantata do Café, de Bach


Cantata do Café, BWV 211, de Johann Sebastian Bach (1685–1750), por Lothar Odinus (Tenor) como Narrador, Klaus Mertens (Baixo) como Schlendrian, Anne Grimm (Soprano) como Liesgen, e ainda a Orquestra e Coro Barrocos de Amesterdão. Direção de Ton Koopman, a partir do baixo contínuo. Há no vídeo legendas disponíveis em inglês

A cantata é um género musical cantado (como o nome indica) a uma ou mais vozes, e por vezes também com coro, constituído por vários andamentos e com acompanhamento instrumental, que foi muito apreciado no séc. XVIII. A cantata não é uma ópera, porque não tem enredo.

Um dos maiores criadores de cantatas foi, sem dúvida nenhuma, Johann Sebastian Bach, que compôs mais de trezentas. A maior parte das cantatas que Bach escreveu são de teor religioso, por imposição contratual durante a sua estadia em Leipzig, mas nem todas o são. Bach escreveu também algumas cantatas profanas, de que esta Cantata do Café é um exemplo.

Em vez de ter o caráter místico próprio das cantatas sacras, a Cantata do Café apresenta um caráter ligeiro, o que mostra que Bach não era um homem austero. Austero era o seu emprego na igreja de São Tomás, em Leipzig, que o obrigou a apresentar uma cantata sacra nova todos os domingos ao longo de cinco anos! Se juntarmos a isto a necessidade de ensinar as novas cantatas aos que iriam interpretá-las, os correspondentes ensaios e tudo o mais, concluiremos que Bach tinha uma vida extraordinariamente ocupada. O desgraçado não devia ter tempo nem para respirar... Ainda nós nos queixamos do stress da vida moderna!

A Cantata do Café reflete a generalização do consumo de café na Europa do séc. XVIII. A própria cantata deve ter sido estreada num estabelecimento dedicado à venda e consumo dessa aromática bebida na cidade de Leipzig, o Café Zimmermann, de que Bach era cliente.

O texto da Cantata do Café, da autoria de Picander, reflete o tom ligeiro da mesma. Além de um narrador, que conta o que se passa, esta cantata gira em torno de um diálogo entre um pai, Schlendrian, e a sua filha, Liesgen. O pai tenta em vão convencer a filha a renunciar ao café, mas esta responde que nada a levará a deixar de beber três chávenas por dia dessa bebida, que é mais doce do que mil beijos e mais suave do que vinho moscatel. Por mais promessas e ameaças que o pai lhe faça, a filha responde que não abdica do café. Por fim, o pai diz à sua filha que nunca lhe arranjará um marido enquanto ela não desistir de beber café. Então, a filha responde que um marido é tudo o que mais deseja no mundo e que por ele até será capaz de renunciar à sua bebida preferida. Enquanto o pai, satisfeito com a resposta, parte em procura de um noivo para a sua filha, esta faz secretamente saber que qualquer pretendente que aparecer em sua casa terá que lhe prometer que a deixará tomar café sempre que quiser.

Comentários: 2

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

Muito interessante e belíssima, esta Cantata do Café!

Quis comentar enquanto ouvia, mas fiz asneira e deixei de ouvir... pouco importa, acabarei de ouvir já a seguir.

Todos os dias cometo o sacrilégio de só beber café com leite. Todas as minhas amigas de café bebem café, café, só eu peço um "garoto" ou "pingado"...

Abraço!

25 setembro, 2022 12:55  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Não é sacrilégio nenhum beber café com leite, porque haveria de ser? O café e o leite são duas bebidas que se completam na perfeição.

Aqui no Porto, o "garoto" é chamado "pingo". Esta deve ser a origem da designação "café pingado". Depois temos a "meia de leite" e o "galão", claro. De vez em quando, eu mesmo bebo um "galão" ao lanche, juntamente com uma torrada.

Notícia de última hora: beber café moderadamente aumenta a longevidade! Independentemente de o café ser normal, instantâneo ou descafeinado, o resultado é o mesmo. A notícia em inglês está em https://www.cbsnews.com/news/coffee-longevity-cardiovascular-benefits-study/. E esta, hem?

30 setembro, 2022 01:37  

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