Cantata do Café, de Bach
A cantata é um género musical cantado (como o nome indica) a uma ou mais vozes, e por vezes também com coro, constituído por vários andamentos e com acompanhamento instrumental, que foi muito apreciado no séc. XVIII. A cantata não é uma ópera, porque não tem enredo.
Um dos maiores criadores de cantatas foi, sem dúvida nenhuma, Johann Sebastian Bach, que compôs mais de trezentas. A maior parte das cantatas que Bach escreveu são de teor religioso, por imposição contratual durante a sua estadia em Leipzig, mas nem todas o são. Bach escreveu também algumas cantatas profanas, de que esta Cantata do Café é um exemplo.
Em vez de ter o caráter místico próprio das cantatas sacras, a Cantata do Café apresenta um caráter ligeiro, o que mostra que Bach não era um homem austero. Austero era o seu emprego na igreja de São Tomás, em Leipzig, que o obrigou a apresentar uma cantata sacra nova todos os domingos ao longo de cinco anos! Se juntarmos a isto a necessidade de ensinar as novas cantatas aos que iriam interpretá-las, os correspondentes ensaios e tudo o mais, concluiremos que Bach tinha uma vida extraordinariamente ocupada. O desgraçado não devia ter tempo nem para respirar... Ainda nós nos queixamos do stress da vida moderna!
A Cantata do Café reflete a generalização do consumo de café na Europa do séc. XVIII. A própria cantata deve ter sido estreada num estabelecimento dedicado à venda e consumo dessa aromática bebida na cidade de Leipzig, o Café Zimmermann, de que Bach era cliente.
O texto da Cantata do Café, da autoria de Picander, reflete o tom ligeiro da mesma. Além de um narrador, que conta o que se passa, esta cantata gira em torno de um diálogo entre um pai, Schlendrian, e a sua filha, Liesgen. O pai tenta em vão convencer a filha a renunciar ao café, mas esta responde que nada a levará a deixar de beber três chávenas por dia dessa bebida, que é mais doce do que mil beijos e mais suave do que vinho moscatel. Por mais promessas e ameaças que o pai lhe faça, a filha responde que não abdica do café. Por fim, o pai diz à sua filha que nunca lhe arranjará um marido enquanto ela não desistir de beber café. Então, a filha responde que um marido é tudo o que mais deseja no mundo e que por ele até será capaz de renunciar à sua bebida preferida. Enquanto o pai, satisfeito com a resposta, parte em procura de um noivo para a sua filha, esta faz secretamente saber que qualquer pretendente que aparecer em sua casa terá que lhe prometer que a deixará tomar café sempre que quiser.
Comentários: 2
Muito interessante e belíssima, esta Cantata do Café!
Quis comentar enquanto ouvia, mas fiz asneira e deixei de ouvir... pouco importa, acabarei de ouvir já a seguir.
Todos os dias cometo o sacrilégio de só beber café com leite. Todas as minhas amigas de café bebem café, café, só eu peço um "garoto" ou "pingado"...
Abraço!
Não é sacrilégio nenhum beber café com leite, porque haveria de ser? O café e o leite são duas bebidas que se completam na perfeição.
Aqui no Porto, o "garoto" é chamado "pingo". Esta deve ser a origem da designação "café pingado". Depois temos a "meia de leite" e o "galão", claro. De vez em quando, eu mesmo bebo um "galão" ao lanche, juntamente com uma torrada.
Notícia de última hora: beber café moderadamente aumenta a longevidade! Independentemente de o café ser normal, instantâneo ou descafeinado, o resultado é o mesmo. A notícia em inglês está em https://www.cbsnews.com/news/coffee-longevity-cardiovascular-benefits-study/. E esta, hem?
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