06 novembro 2024

A serpente


Covas do Rio, aldeia na Serra de Arada ou de São Macário, São Pedro do Sul (Foto: José António Baltazar Aurélio)
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Pena, aldeia na Serra de Arada ou de São Macário, São Pedro do Sul. Fotografia feita a partir da estrada de acesso, que é muito íngreme e perigosa (Foto: Inês Sequeira)
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Dizem os antigos que nos montes de Covas do Rio havia uma serpente muito, muito grande, que ia beber ao Rio de Bronhedo, onde nessa altura habitava gente. Como a serpente era descomunal as pessoas não se podiam defender dela, que ia comendo quem apanhava mais perto, quando lhe dava fome.

As pessoas tiveram tanto medo que fugiram, mas como gostavam tanto de morar ali, e o lugar é deveras bonito, iam dizendo:

— Que pena, que pena termos de sair daqui!

E foram construir as suas casas numa aldeia, no fundo de um vale de difícil acesso, onde a serpente não lhes conseguisse chegar com facilidade. Diz-se que, por isso, chamaram Pena ao lugar para onde fugiram. Mas alguns não quiseram ir para longe dali e ficaram em Covas do Rio, por isso tinham que levar, todos os dias, uma rês ao pé do rio, para a serpente não os comer a eles.

Certo dia, uma menina levava uma rês lá para o sítio onde a serpente ia beber; e ia a chorar com muito medo, quando encontrou um barbeiro, que andava a cortar as barbas de aldeia em aldeia. Então, o barbeiro perguntou-lhe porque é que ia a chorar e ela contou-lhe o que se estava a passar. O barbeiro disse-lhe que não chorasse mais, que ele havia de matar a serpente e quis saber por onde é que ela passava, quando ia beber ao rio. A menina mostrou-lhe o caminho e o barbeiro afiou bem muitas facas e colocou-as em jeito de escamas, de tal maneira que, nesse mesmo dia, quando a serpente desceu para ir beber ao rio, passou em cima das navalhas, mas não se cortou, só que quando voltou a subir, cortou se toda, o sangue corria pelo rio abaixo e ela morreu.

Ainda hoje lá se pode ver a cova da serpente e os restos das paredes das casas, que as pessoas tiveram de abandonar para salvarem as suas vidas.



Maria dos Anjos, lenda recolhida em Covas do Rio, concelho de São Pedro do Sul, por Isabel Pinho


Trecho do caminho que liga a aldeia da Pena à de Covas do Rio e a que chamam "caminho do morto que matou o vivo". Antes da abertura da estrada que liga a Pena ao alto de São Macário, este era o único caminho que estabelecia comunicação entre a Pena e o resto do mundo. Como na Pena não existia cemitério, os mortos eram levados ao longo deste caminho até Covas do Rio, para poderem ser enterrados. Numa ocasião em que era transportado um morto, o caixão resvalou e atingiu mortalmente um dos homens que o transportavam. Por isso se diz que o morto matou o vivo (Foto de autor desconhecido)
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