27 fevereiro 2025

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida verdade, o Sentimento!
— E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!…

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
— E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento…

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Florbela Espanca (1894–1930)


(Foto de autor desconhecido)

Comentários: 2

Blogger Rogério G.V. Pereira escreveu...

Flor_bela
não há outra
como ela

Abraço agradecido

27 fevereiro, 2025 22:17  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Eu é que agradeço.

Outro abraço

01 março, 2025 17:08  

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