Al Mu'tamid, um árabe do Alentejo
Torre de menagem feita de mármore e arco romano em Beja, cidade onde nasceu Al Mu'tamid (Foto: antoniolouro)
EVOCAÇÃO DE SILVES
Saúda, por mim, Abû Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o Palácio dos Balcões,
Da parte de quem nunca o esqueceu,
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas.
Moças níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
Como lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Preso nos jogos do amor
Com a da pulseira curva,
Igual aos meandros da água,
Enquanto o tempo passava...
Ela me servia vinho:
O vinho do seu olhar,
Às vezes o do seu copo,
E outras vezes o da boca.
Tangia-me o alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas se retirava as vestes
Grácil detalhe mostrando,
Era ramo de salgueiro
Que me abria o seu botão
Para ostentar a flor.
(Muhammad ibn 'Abbad al-Mu'tamid (1040-1095), nascido em Beja, rei de Sevilha e um dos poetas mais admirados da língua árabe. Poema traduzido do árabe por Adalberto Alves.)
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