O soldado morto
Os infinitos céus fitam seu rosto
absoluto e cego
E a brisa agora beija a sua boca
Que nunca mais há-de beijar ninguém.
Tem as duas mãos côncavas ainda
De possessão de impulso de promessa.
Dos seus ombros desprende-se uma espera
Que dividida na tarde se dispersa.
E a luz, as horas, as colinas
São como pranto, em volta do seu rosto
Porque ele foi jogado e foi perdido
E no céu passam aves repentinas.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Funeral de um militar português em Mueda, norte de Moçambique (Foto: SRG) |
Comentários: 3
As memórias não nos largam
Somos as memórias que temos
Boa Páscoa
Uns morrem pelas causas que abraçam, outros morrem sem saber porquê. Mas, para quem os ama, é sempre a mesma dor por terem partido mais cedo do que deviam.
(O poema é belíssimo e não podia ser mais apropriado)
Boa Páscoa!
Boa Páscoa a ambos, Rogério Pereira e Um Jeito Manso.
"Uns morrem pelas causas que abraçam, outros morrem sem saber porquê" e outros ainda morrem pelas causas que demasiado tardiamente descobrem serem injustas e sem futuro, e que por isso vão morrer inutilmente. "Mas, para quem os ama, é sempre a mesma dor por terem partido mais cedo do que deviam".
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