17 dezembro 2016

Poesia depois da chuva

Depois da chuva o Sol — a graça.
Oh! a terra molhada iluminada!
E os regos de água atravessando a praça
— luz a fluir, num fluir imperceptível quase.

Canta, contente, um pássaro qualquer.
Logo a seguir, nos ramos nus, esvoaça.
O fundo é branco — cal fresquinha no casario da praça.

Guizos, rodas rodando, vozes claras no ar.

Tão alegre este Sol! Há Deus. (Tivera-O eu negado
antes do Sol, não duvidava agora.)
Ó Tarde virgem, Senhora Aparecida! Ó Tarde igual
às manhãs do princípio!

E tu passaste, flor dos olhos pretos que eu admiro.
Grácil, tão grácil!… Pura imagem da Tarde…
Flor levada nas águas, mansamente…

(Fluía a luz, num fluir imperceptível quase…)

Sebastião da Gama (1924–1952), in Pelo Sonho é que Vamos



(Foto: Thomas Lhomme)

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