Ser Poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca (1894–1930)
Comentários: 3
Tão belo, este soneto da Florbela...
Obrigada, Fernando.
Abraço
Todos os sonetos de Florbela Espanca são belos, mas este é dos mais belos, na minha modesta opinião.
Confesso que tive uma certa dificuldade em desligar este soneto da canção que os Trovante gravaram com base nele. A dado momento, dei por mim a trautear a canção dentro da minha cabeça, enquanto lia o soneto. Eu não nego que a música é muito bonita, como quase todas as dos Trovante, mas não é música para este soneto, não tem o arrebatamento que a poesia de Florbela requer. Achei por isso preferível publicar só as palavras, sem a música.
Obrigado pelo seu comentário.
Conheço e gosto muito da canção dos Trovante, mas a poesia tem, sobretudo para mim que sou sinesteta, uma sonoridade muito própria. Gosto muito de lê-la assim, só na musicalidade das palavras que a compõem.
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