19 junho 2020

Carlos de Bragança (Rei de Portugal)


O Sobreiro, pastel sobre cartão de Carlos de Bragança (1863–1908), Palácio Ducal — Fundação da Casa de Bragança, Vila Viçosa, Portugal

Sou republicano convicto. Logo, não nutro especial simpatia pela figura de D. Carlos e pelo papel que ele representou como rei de Portugal. Com a arrogância própria de quem se julgava acima do comum dos mortais, D. Carlos chamava "Piolheira" ao seu próprio país e apoiou, contra ventos e marés, o governo autoritário (para não lhe chamar ditatorial) de João Franco. Quanto ao ultimato britânico, não atribuo particulares responsabilidades a D. Carlos pelo sucedido; acho que D. Carlos foi apanhado por um turbilhão de acontecimentos que o ultrapassaram. Como prezo a vida humana, também condeno o seu assassinato em 1908, juntamente com o príncipe herdeiro Luís Filipe.

Neste momento, o que eu pretendo salientar é o valor do rei D. Carlos como pintor de grande talento, que de facto foi. Também foi fotógrafo, ceramista, ornitólogo, oceanógrafo, etc., dos mais destacados na Europa do seu tempo. A pintura que aqui se reproduz é um exemplo eloquente do seu grande valor artístico.

Comentários: 6

Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

E eu prezo muito quem sabe separar as águas. Carlos de Bragança era um aristocratazeco pedante, mas um excelente pintor!

Abraço

19 junho, 2020 09:09  
Blogger Ricardo Santos escreveu...

Dom Carlos era um bom artista e um mau monarca !

19 junho, 2020 21:02  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Dom Carlos era um bom artista e também um bom cientista. A bordo do seu iate "Amélia", D. Carlos fez o mapeamento do fundo marinho e a identificação das espécies marinhas residentes ao largo da costa de Cascais, Estoril, Sesimbra, Arrábida, etc. Como monarca, D. Carlos deixou a marca do seu vil desprezo pelo povo português, que era pobre e atrasado, mas era quem lhe pagava os luxos e extravagâncias.

A propósito de pedante: apesar de a República ter sido instaurada há 110 anos, ainda há por aí alguns pândegos que se julgam superiores aos demais porque acham que têm "sangue azul"... São uns tristes. Se não, vejamos.

Todos nós temos ou tivemos um pai e uma mãe; dois avôs e duas avós; quatro bisavôs e quatro bisavós; oito trisavôs e oito trisavós; etc., etc. De cada vez que se recua uma geração, o número dos nossos antepassados duplica. A partir de certa altura, começam a aparecer repetições, é certo, mas não é preciso recuar muitas gerações para chegarmos a um número da ordem dos milhares de antepassados nossos. Há tempos, li não sei onde que alguém se deu ao trabalho de fazer as contas todas e concluiu que TODOS os europeus, qualquer que seja a sua nacionalidade e a sua condição social, descendem de Carlos Magno!

Andam esses tristes do "sangue azul" cheios de vaidade, porque descendem dos viscondes disto e dos marqueses daquilo. Ora vão dar banho ao cão! Nós somos muito mais importantes: descendemos de um imperador! E não foi um imperador qualquer, foi Carlos Magno, o rei dos Francos que se tornou primeiro soberano do Sacro Império Romano-Germânico!

20 junho, 2020 02:17  
Blogger Maria João Brito de Sousa escreveu...

:) Não fazia ideia , não fazia ideia, Fernando... e, sinceramente, tanto se me dá pois nem sequer me sinto muito confortável com a ideia de descender de um imperador...

Sou uma mulher bem mais pragmática do que possa parecer e todas as semanas - ou quase... - verifico que o meu sangue é bem vermelho, graças às picadelas que levo para controle do INR.


E já agora - pragmática mas curiosa -, garanto-lhe que vou ficar a matutar sobre a espessura e a cor do ilustríssimo sangue de Carlos Magno...

Abraço!

20 junho, 2020 11:12  
Blogger Valdemar Silva escreveu...

A parvoíce da questão do 'sangue azul' teve a ver com as pessoas que se resguardavam do sol e as que trabalhavam de sol a sol.
As que se resguardavam do sol ficavam com os braços 'branquinhos' e notavam-se perfeitamente as veias e o tom azulado do sangue, as que trabalhavam de sol a sol ficavam 'bronzeadas' e não se viam as veias.
Assim se diferenciavam as classes sociais, e passados séculos o conceito alterou-se passando o 'bronzeado' a ser distinguido dos que levavam uma vida de veraneio e os que trabalhavam de sol a sol.
Depois democratizou-se o veraneio e a diferença começou a ficar confusa e, apenas, nas marcas da protecção da cabeça se conhecia os que trabalhavam de sol a sol.
Cumprimentos
Valdemar Silva

21 junho, 2020 18:17  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

A sua explicação é a mais plausível e é nela que acredito, caro Valdemar, mas já ouvi uma outra, que é a seguinte.

O fim do Império Romano do Ocidente, como se sabe, foi provocado pela invasão de tribos e povos vindos do norte e do oriente, os chamados bárbaros. O atual território português, nomeadamente, foi alvo de duas vagas invasoras de bárbaros.

A primeira vaga foi protagonizada por Suevos, Vândalos e Alanos, acabando os Suevos por levar a melhor e fundar um reino com capital em Braga, o Reino dos Suevos. Os Vândalos e os Alanos foram expulsos pelos Suevos para o Norte de África.

A segunda vaga foi protagonizada pelos Visigodos, que acabaram por impor o seu domínio a toda a Península Ibérica, incluindo o Reino dos Suevos, que conquistaram. Formou-se então uma classe aristocrática constituída por Visigodos, os quais, porque eram germânicos, eram loiros e muito brancos. As veias e artérias dos Visigodos viam-se à transparência da sua pele, com uma maior nitidez do que na pele dos habitantes locais, que eram mais morenos. Os Visigodos tinham "sangue azul".

Esta classe aristocrática visigótica durou vários séculos, tendo-se prolongado no tempo até muito depois da invasão árabe e da reconquista cristã da Península. Com efeito, o Reino das Astúrias foi fundado por Visigodos, que foram retomando aos Árabes as terras que tinham sido suas, nos novos reinos que entretanto foram nascendo.

Em Portugal, esta aristocracia de origem visigótica acabou no séc. XIV. Vem nos livros de História que, durante a crise de 1383-1385, a nobreza portuguesa apoiou o rei de Castela. Como este foi derrotado na batalha de Aljubarrota, a nobreza foi derrotada com ele. O Mestre de Avis, depois de ter sido proclamado rei de Portugal, como D. João I, distribuiu terras e títulos de nobreza pelos seus apoiantes mais destacados, dando origem a uma nova aristocracia, que se substituiu à antiga aristocracia visigótica. A nova aristocracia era tão morena como a plebe de que proveio, mas a expressão "sangue azul" ficou.

22 junho, 2020 02:33  

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